“Do Orgulho dos Homens à Modéstia dos Sábios.
(extrato)
(...) “Muitos de nós, que hoje militamos na Doutrina Espírita, viemos das fileiras religiosas, do absolutismo religioso. Vivemos, durante séculos, folheando os livros sagrados, engranzando rosários, comentando as Escrituras, apostrofando (esconjurando) os incréus (ateus) ou os díscolos (dissidentes), anatematizando os contrários, proibindo as discordâncias, impondo os pontos teológicos. Seria impossível que esse lidar, durante tempos imemoriais, num sentido único e num só feitio, não nos fizesse uma ranhura na alma.
Daí o infalibilismo bíblico, o sectarismo
religioso, a inflexibilidade na interpretação dos textos, a fé desarrazoada
(despropositada; injusta), a inclinação a toda sorte de fanatismo, o abandono
da iniciativa pessoal, a propensão a deixar tudo por conta e às costas do
Espírito Santo, em nosso caso, o Espírito-guia.
(...) “Eles não podem ver,
ainda, com bons olhos o Espiritismo Científico, que lhes parece orgulho,
bazófia e até ignorância.
Há o reverso; há o outro
extremo: os que não admitem o espírito religioso. Para eles só vale o
conhecimento. (...) Faltando-lhes a fé, sua crença não passava de mera
encenação, espécie de fogo de vista. Só acreditavam nos cinco sentidos e nas
fracas noções que a Ciência nos oferece. Não viam, nem veem que muita coisa há
que nos entra na alma pela via da intuição; que há pobres de espírito mais
iluminados que muitos sábios sublunares; que uma simples prece faz conseguir o
que muitos anos de esforço não podem realizar.
O estudo, a meditação, a lição
dos maiores convenceram-nos de que amputaremos o Espiritismo, se lhe tirarmos
uma de suas faces.
Em resumo: devemos ater-nos ao Tríplice
Aspecto do Espiritismo, procurando na parte filosófica a nossa origem, o nosso
destino, o problema do ser; buscando, na parte religiosa, manter o traço que
nos deve ligar ao Criador e seguir a Moral que Ele nos vem transmitindo através
das idades e dos meios que cada época requer; colhendo, na parte científica, a
prova, a documentação das partes anteriores, e, consequentemente, adquirindo a
certeza de que são autênticas. (...)
Tal é o que a razão aconselha e
tal é o caminho que todos deveriam seguir, se, infelizmente, as paixões humanas
não se colocassem acima do raciocínio e do entendimento.
Quanto ao terreno,
continuaremos mourejando na planície. Caem de muito alto os que muito sobem.
Infelizes os que se julgam no ápice da glória, quer os que com a espada
escrevem páginas dolorosas e sangrentas, quer os que com a pena abrem profundas
feridas na consciência e na liberdade alheias.
Não é principalmente orgulho, senão
lamentável imprevidência o não nos fazermos pequeninos, como mandava o Divino
Mestre.”
Livro: “Religião” – Autor: Carlos Imbassay – FEB.
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