sexta-feira, 21 de outubro de 2022


A Parábola do Bom Samaritano  (Lucas 10, 25 - 37)

Esta parábola trata da verdadeira Caridade, sem fronteiras, preconceitos ou distinções. Jesus se utiliza da figura de um samaritano, desprezado pelos doutores da Lei, para ressaltar que não são os títulos da Terra os determinantes de uma boa situação no mundo espiritual. A máxima "Fora da Caridade não há salvação”, apregoada por Allan Kardec, aborda o mesmo tema. Jesus mostra que não basta memorizar textos sagrados, e aquele que se julga religioso pode estar, apenas, aparentando o ser.

Jesus inicia dizendo na parábola: Descia um homem... (Lucas 10, 30)

- Quem é esse homem? É alguém conhecido? Esse homem poderia ser qualquer pessoa. Poderia ser uma pessoa rica ou pobre, de condição social importante ou não. Poderia ser qualquer um, inclusive um sacerdote ou um levita que também estivesse descendo como os outros dois. Ao descer, esse homem não estava realizando um ato qualquer, como veremos adiante.

Jerusalém e Jericó são duas cidades de Israel. Situa-se Jerusalém a 2.000 metros de altitude, Jericó, junto ao mar Morto, está 250 metros abaixo do nível do mar. Descia-se, portanto, 2.250 metros para ir de Jerusalém para Jericó.

Jerusalém era, e continua sendo, uma cidade sagrada para os judeus. Jericó, ao invés, é considerada uma cidade maldita, tendo sido execrada por Josué 6, 26, conforme lemos na Bíblia, "Naquele tempo, Josué fez o povo jurar e dizer: "Maldito seja diante do Senhor o homem que reconstruir a cidade de Jericó: Ao preço de seu filho mais velho lançará os alicerces da cidade; ao preço de seu filho mais novo porá suas portas!"

O mais importante na parábola não são esses dados históricos e geográficos, pois Jesus utiliza essas cidades como símbolos. Jerusalém simboliza o sagrado, os princípios superiores, espiritualizados, e Jericó, o maldito, o predomínio da inferioridade.

O significado profundo de descer de Jerusalém para Jerico é o afastamento do sagrado que existe em nós, em nossa Essência Divina. A atitude equivale ao ir para terras longínquas, como vemos na "Parábola dos Filho Pródigo” (Lucas 15, 11 - 32).

Descer de Jerusalém para Jericó é, simbolicamente, escolher um nível mais baixo de consciência, a que chamamos egoico, em vez de um nível mais elevado, chamado Essencial. Descer de Jerusalém para Jericó significa, portanto, buscar as questões egoicas da vida, egoísticas e egocêntricas. É ir para longe da essência de amor que somos, da essência que é o Amor Divino ínsito (impresso) em nós. Descer, por conseguinte, significa ir em direção ao desamor, em direção ao egoísmo e egocentrismo. A pessoa quando desce escolhe o movimento egoístico e egocêntrico, centrada apenas no seu bem-estar em detrimento dos outros.

O homem referido por Jesus deve ser interpretado sob o ponto de vista individual ou coletivo. No coletivo, representa a própria humanidade falida, à mercê das agressões mútuas. No individual, cada um de nós, cometendo seus erros. Já o termo descia assume um significado especial ao interpretarmo-lo como as opções feitas em direção ao desequilíbrio. Sempre que erramos, nos colocamos sob a Lei de Ação e Reação, ou seja, se descemos, iremos sofrer. No caso da parábola, o erro levou-o ao encontro com assaltantes, os inúmeros desequilibrados que se encontram neste planeta de provas e expiações, que o roubaram e espancaram. Assim também é a Vida, quando erramos, entramos em sintonia com aqueles que ainda se comprazem no erro, e saímos deste convívio sempre feridos, lesados. É interessante que o sacerdote também descia por aquele caminho.

2º Ponto: Caiu em poder de salteadores... (Lucas 10, 30)         - Quando o homem desce de Jerusalém para Jericó, ele cai em poder de salteadores. O que são esses salteadores, do ponto de vista espiritual profundo? São os próprios sentimentos egoicos negativos que a pessoa mantém ao descer, tais como: desamor, orgulho, egoísmo, egocentrismo, indiferença, mágoas, ódio, crueldade, vaidade, inveja, etc.

Todos nós trazemos na consciência as Leis de Deus, que nos convidam ao amor (“O Livro dos Espíritos”, item 621). Descer consciencialmente significa não cumprir essas Leis. Todas as vezes que, ao invés de praticarmos o amor e o bem, praticarmos o desamor e o mal, estaremos descendo consciencialmente, e nisso está o símbolo mais profundo que temos nessa parábola. A criatura opta por descer, usando o seu livre-arbítrio. Surge, então, um momento em que essas negatividades se apoderam da pessoa.

3º Ponto: “... caiu em poder de salteadores, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto”. (Lucas 10, 30). 

- Os salteadores despojam, cobrem de ferimento e deixam a pessoa semimorta. Qual o significado profundo de cair em poder de salteadores, ficar despojado de tudo, coberto de ferimentos e semimorto? Quando uma pessoa dá vazão aos sentimentos egoicos negativos, atrai Espíritos inferiores que vão se aproveitar desses sentimentos e perturbá-la mais ainda, agindo como salteadores. Porém, isso é efeito. A causa são os salteadores internos (os vícios; a sombra) que trazemos, porque são eles que atraem não apenas desencarnados, mas também encarnados que ainda se comprazem no mal.

Uma pessoa que deseja realizar o bem busca ambientes que combinem com esse desejo. Contudo, a pessoa que está descendo, buscando deliberadamente o mal, está buscando ambientes onde existem salteadores de todos os tipos, encarnados e desencarnados.

No entanto, o mais importante não são os salteadores externos são os internos (os vícios; a sombra), porque são, verdadeiramente, os que nos despojam de tudo, cobrem-nos de ferimentos e deixam-nos semimortos. Jesus usa o termo semimorto para simbolizar a morte psicológica, convidando quem está semimorto a reviver.

Nesse versículo 30, do capítulo 10 de Lucas, Jesus está simbolizando, de forma profunda, os próprios mecanismos da Vida, especialmente a Lei de Causa e Efeito. Vejamos um exemplo do significado desse versículo que fala da descida consciencial e de suas consequências: Imaginemos um político que se candidata a um cargo público com o fim de desviar recursos destinados a escolas, hospitais, segurança, cestas básicas, etc. O que ele está fazendo? Está descendo consciencialmente. Está descendo de Jerusalém para Jericó. Quem é que reencarna para subtrair dinheiro público? Ninguém nasce para fazer isso.  A pessoa escolhe esse caminho, usando mal o seu livre-arbítrio.

Quem descer de Jerusalém para Jericó, cairá, cedo ou tarde, em poder dos salteadores. Ao cultivar o egoísmo, a pessoa, em dado momento, entrará em contato com a realidade nua e crua, pois se existe o momento do plantio, há o momento da colheita.

Em que momento esse político que está descendo vai, necessariamente, entrar em contato com a realidade? Na desencarnação. Voltaremos para o mundo espiritual da forma como vivemos. Se passarmos a vida inteira descendo de Jerusalém para Jericó, voltaremos ao mundo espiritual como mendigos espirituais.

Quem, simbolicamente, passou a vida toda subindo de Jericó para Jerusalém, chegará ao mundo espiritual rico, mesmo que tenha passado por uma pobreza extrema no mundo físico. Já o contrário não é verdadeiro: quando a pessoa cultua os salteadores, vai ficar despojada de tudo, coberta de ferimentos e semimorta. No exemplo citado, quando esse político voltar para o mundo espiritual, não levará o dinheiro que ganhou ilicitamente. Voltará despojado de tudo, coberto de ferimentos e semimorto, completamente hebetado (desequilibrado).

Os ferimentos representam os sentimentos de culpa e remorso resultantes da consciência maculada pela prática do desamor, que nos deixa psicologicamente mortos, até que resolvamos reviver (reconhecer o erro e buscar reparar).

Quando não cumprimos as Leis de Deus, que estão inscritas em nossa consciência, ao descermos de Jerusalém para Jericó produziremos uma mácula na consciência, gerando um conflito. Como a nossa sociedade ainda está calcada na culpa, todas as vezes que uma pessoa não segue a Lei Divina tende a entrar num remorso acerbo.

Ainda são poucos aqueles que praticam a ação responsável de assumir as responsabilidades pelos seus erros para aprender com eles e depois repará-los. Muitas são as pessoas que entram nesse estado de consciência maculada, geradora da culpa e do remorso que as deixam semimortas.

 

Bibliografia: 1. “Parábolas Terapêuticas” – Vol. 2 – Alírio de Cerqueira Filho.

2. Refletindo sobre as Parábolas de Jesus – Juarez Barbosa Perissé.                     

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