A Parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 25 - 37)
Esta parábola trata da verdadeira Caridade, sem fronteiras,
preconceitos ou distinções. Jesus se utiliza da figura de um samaritano,
desprezado pelos doutores da Lei, para ressaltar que não são os títulos da
Terra os determinantes de uma boa situação no mundo espiritual. A máxima "Fora
da Caridade não há salvação”, apregoada por Allan Kardec, aborda o mesmo tema.
Jesus mostra que não basta memorizar textos sagrados, e aquele que se julga
religioso pode estar, apenas, aparentando o ser.
Jesus inicia dizendo na parábola: Descia um homem... (Lucas
10, 30)
- Quem é esse homem? É alguém conhecido? Esse homem poderia
ser qualquer pessoa. Poderia ser uma pessoa rica ou pobre, de condição social
importante ou não. Poderia ser qualquer um, inclusive um sacerdote ou um levita
que também estivesse descendo como os outros dois. Ao descer, esse homem não
estava realizando um ato qualquer, como veremos adiante.
Jerusalém e Jericó são duas cidades de Israel. Situa-se Jerusalém
a 2.000 metros de altitude, Jericó, junto ao mar Morto, está 250 metros abaixo
do nível do mar. Descia-se, portanto, 2.250 metros para ir de Jerusalém para
Jericó.
Jerusalém era, e continua sendo, uma cidade sagrada para os
judeus. Jericó, ao invés, é considerada uma cidade maldita, tendo sido execrada
por Josué 6, 26, conforme lemos na Bíblia, "Naquele tempo, Josué fez o
povo jurar e dizer: "Maldito seja diante do Senhor o homem que reconstruir
a cidade de Jericó: Ao preço de seu filho mais velho lançará os alicerces da
cidade; ao preço de seu filho mais novo porá suas portas!"
O mais importante na parábola não são esses dados históricos
e geográficos, pois Jesus utiliza essas cidades como símbolos. Jerusalém
simboliza o sagrado, os princípios superiores, espiritualizados, e Jericó, o maldito,
o predomínio da inferioridade.
O significado profundo de descer de Jerusalém para Jerico é
o afastamento do sagrado que existe em nós, em nossa Essência Divina. A atitude
equivale ao ir para terras longínquas, como vemos na "Parábola dos Filho
Pródigo” (Lucas 15, 11 - 32).
Descer de Jerusalém para Jericó é, simbolicamente, escolher
um nível mais baixo de consciência, a que chamamos egoico, em vez de um nível
mais elevado, chamado Essencial. Descer de Jerusalém para Jericó significa,
portanto, buscar as questões egoicas da vida, egoísticas e egocêntricas. É ir
para longe da essência de amor que somos, da essência que é o Amor Divino ínsito
(impresso) em nós. Descer, por conseguinte, significa ir em direção ao desamor,
em direção ao egoísmo e egocentrismo. A pessoa quando desce escolhe o movimento
egoístico e egocêntrico, centrada apenas no seu bem-estar em detrimento dos
outros.
O homem referido por Jesus deve ser interpretado sob o ponto
de vista individual ou coletivo. No coletivo, representa a própria humanidade
falida, à mercê das agressões mútuas. No individual, cada um de nós, cometendo
seus erros. Já o termo descia assume um significado especial ao interpretarmo-lo
como as opções feitas em direção ao desequilíbrio. Sempre que erramos, nos
colocamos sob a Lei de Ação e Reação, ou seja, se descemos, iremos sofrer. No
caso da parábola, o erro levou-o ao encontro com assaltantes, os inúmeros
desequilibrados que se encontram neste planeta de provas e expiações, que o
roubaram e espancaram. Assim também é a Vida, quando erramos, entramos em sintonia
com aqueles que ainda se comprazem no erro, e saímos deste convívio sempre feridos,
lesados. É interessante que o sacerdote também descia por aquele caminho.
2º Ponto: Caiu em poder de salteadores... (Lucas 10, 30) - Quando o homem desce de Jerusalém para Jericó, ele cai em poder de
salteadores. O que são esses salteadores, do ponto de vista espiritual profundo?
São os próprios sentimentos egoicos negativos que a pessoa mantém ao descer,
tais como: desamor, orgulho, egoísmo, egocentrismo, indiferença, mágoas, ódio, crueldade,
vaidade, inveja, etc.
Todos nós trazemos na consciência as Leis de Deus, que nos
convidam ao amor (“O Livro dos Espíritos”, item 621). Descer
consciencialmente significa não cumprir essas Leis. Todas as vezes que, ao
invés de praticarmos o amor e o bem, praticarmos o desamor e o mal, estaremos descendo
consciencialmente, e nisso está o símbolo mais profundo que temos nessa
parábola. A criatura opta por descer, usando o seu livre-arbítrio. Surge,
então, um momento em que essas negatividades se apoderam da pessoa.
3º Ponto: “... caiu em poder de salteadores, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto”. (Lucas 10, 30).
- Os salteadores despojam, cobrem de ferimento e deixam a pessoa
semimorta. Qual o significado profundo de cair em poder de salteadores, ficar despojado
de tudo, coberto de ferimentos e semimorto? Quando uma pessoa dá vazão aos
sentimentos egoicos negativos, atrai Espíritos inferiores que vão se aproveitar
desses sentimentos e perturbá-la mais ainda, agindo como salteadores. Porém,
isso é efeito. A causa são os salteadores internos (os vícios; a sombra) que
trazemos, porque são eles que atraem não apenas desencarnados, mas também
encarnados que ainda se comprazem no mal.
Uma pessoa que deseja realizar o bem busca ambientes que
combinem com esse desejo. Contudo, a pessoa que está descendo, buscando deliberadamente
o mal, está buscando ambientes onde existem salteadores de todos os tipos, encarnados
e desencarnados.
No entanto, o mais importante não são os salteadores
externos são os internos (os vícios; a sombra), porque são, verdadeiramente, os
que nos despojam de tudo, cobrem-nos de ferimentos e deixam-nos semimortos.
Jesus usa o termo semimorto para simbolizar a morte psicológica, convidando
quem está semimorto a reviver.
Nesse versículo 30, do capítulo 10 de Lucas, Jesus está
simbolizando, de forma profunda, os próprios mecanismos da Vida, especialmente
a Lei de Causa e Efeito. Vejamos um exemplo do significado desse versículo que
fala da descida consciencial e de suas consequências: Imaginemos um político
que se candidata a um cargo público com o fim de desviar recursos destinados a
escolas, hospitais, segurança, cestas básicas, etc. O que ele está fazendo?
Está descendo consciencialmente. Está descendo de Jerusalém para Jericó. Quem é
que reencarna para subtrair dinheiro público? Ninguém nasce para fazer isso. A pessoa escolhe esse caminho, usando mal o
seu livre-arbítrio.
Quem descer de Jerusalém para Jericó, cairá, cedo ou tarde,
em poder dos salteadores. Ao cultivar o egoísmo, a pessoa, em dado momento,
entrará em contato com a realidade nua e crua, pois se existe o momento do
plantio, há o momento da colheita.
Em que momento esse político que está descendo vai, necessariamente,
entrar em contato com a realidade? Na desencarnação. Voltaremos para o mundo
espiritual da forma como vivemos. Se passarmos a vida inteira descendo de
Jerusalém para Jericó, voltaremos ao mundo espiritual como mendigos
espirituais.
Quem, simbolicamente, passou a vida toda subindo de Jericó
para Jerusalém, chegará ao mundo espiritual rico, mesmo que tenha passado por
uma pobreza extrema no mundo físico. Já o contrário não é verdadeiro: quando a
pessoa cultua os salteadores, vai ficar despojada de tudo, coberta de
ferimentos e semimorta. No exemplo citado, quando esse político voltar para o
mundo espiritual, não levará o dinheiro que ganhou ilicitamente. Voltará despojado
de tudo, coberto de ferimentos e semimorto, completamente hebetado
(desequilibrado).
Os ferimentos representam os sentimentos de culpa e remorso resultantes
da consciência maculada pela prática do desamor, que nos deixa psicologicamente
mortos, até que resolvamos reviver (reconhecer o erro e buscar reparar).
Quando não cumprimos as Leis de Deus, que estão inscritas em
nossa consciência, ao descermos de Jerusalém para Jericó produziremos uma mácula
na consciência, gerando um conflito. Como a nossa sociedade ainda está calcada
na culpa, todas as vezes que uma pessoa não segue a Lei Divina tende a entrar
num remorso acerbo.
Ainda são poucos aqueles que praticam a ação responsável de
assumir as responsabilidades pelos seus erros para aprender com eles e depois
repará-los. Muitas são as pessoas que entram nesse estado de consciência
maculada, geradora da culpa e do remorso que as deixam semimortas.
Bibliografia: 1. “Parábolas Terapêuticas” – Vol. 2 – Alírio
de Cerqueira Filho.
2. Refletindo sobre as Parábolas de Jesus – Juarez Barbosa Perissé.

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