sexta-feira, 21 de outubro de 2022

 

Introdução - Tempos de Agonia

(...) “Acusa-se o Cristianismo de ser o responsável pela universalização da hipocrisia, mas os próprios Evangelhos atestam a atitude racional do Cristo em face dos que pretendiam lapidar a mulher adúltera. No caso de Zaqueu, o Cristo aceita a sua hospitalidade quando ele promete devolver aos pobres o fruto impuro dos seus roubos. Madalena arrependida tornou-se a seguidora dedicada e a escolhida para ser a primeira a vê-lo depois da ressurreição. Não há dúvida que os excessos repressivos do Cristianismo não foram determinados pelo Cristo, mas pelos seus apóstolos judeus, contaminados pela hipocrisia farisaica e de outras seitas judaicas. O Apóstolo Paulo, o que melhor compreendeu a posição do Cristo em tantos aspectos, não conseguiu escapar aos prejuízos do judaísmo, (...) quando se referia aos processos de repressão, tornando-os ainda mais agudos na religião nascente.

Explica-se a atitude paulina ante as abusos e excessos das religiões pagãs, mitológicas, em que as práticas fálicas (do sexo abusivo), os rituais dionisíacos, toda a herança da velha Suméria, da Mesopotâmia, da libertinagem da Grécia e de Roma contaminavam as ingênuas comunidades cristãs, ameaçando com os seus excessos os princípios espirituais da religião nascente. Paulo de Tarso,  extremamente zeloso, apegava-se aos resíduos da sua formação farisaica, agindo com dureza para impedir que os cristãos retornassem às práticas da irresponsabilidade moral. Mas há enorme distância entre as medidas enérgicas de Paulo, que não usava a máscara da hipocrisia, e as medidas repressivas que mais tarde judaizaram as religiões cristãs. Ele, que combateu sem cessar os apóstolos judaizantes, incidiu no mesmo erro que tanto condenara, mas justificado pelas circunstâncias de uma época de ignorância e de costumes geralmente condenáveis.

O ponto crucial do problema religioso chama-se hipocrisia. E a hipocrisia resulta das atitudes egoístas, da falta de compreensão do verdadeiro sentido da Religião, que é caminho e não ponto de chegada da espiritualização do homem. Os religiosos que pretendem atingir a santidade do dia para a noite, que se revestem de pureza exterior, encobrindo a podridão interior, são os hipócritas condenados veementemente no Evangelho (Mateus 23, 1 – 39). A solução desse grave problema, que responde pela morte cíclica das civilizações, está na compreensão da verdadeira natureza do homem, do processo natural do seu desenvolvimento espiritual. Os artifícios purificadores só servem para mascarar os indivíduos pretensiosos. As práticas ascéticas não podem ser forçadas. As paixões e os instintos do homem são manifestações de forças vitais que, sob o controle da razão e do sentimento, podem e devem guiar o espírito nos rumos da transcendência.”  (...)

Cap. 10 – Magia e Misticismo.

(...) “O tempo das igrejas está chegando ao fim, como chegou o dos Mistérios na Antiguidade. Elas foram necessárias e tanto serviram como desserviram a Humanidade, revelando sua estrutura imperfeita como a de todas as obras humanas. Em vão se arrogaram investiduras divinas. A mente humana se abre hoje para novas dimensões e as igrejas não têm condições para acompanhá-la nesse avanço. (...)

Para poderem sobreviver, as igrejas têm de desigrejar-se, suprimindo o profissionalismo sacerdotal, as suas dogmáticas absurdas, as liturgias vazias de sentido. Antes que possam pagar esse preço demasiado elevado, as forças da evolução as varrerão da face da Terra. Isto não é uma profecia espírita, é uma profecia evangélica de Jesus, no episódio com a mulher samaritana (João 1, 19 – 24). Que ninguém me acuse de responsável por essa previsão que elas mesmas, as igrejas, por dois mil anos fizeram ler no Evangelho em seus cultos sem a entenderem. Também não entenderam a questão das muitas moradas da Casa do Pai, nem a do batismo espiritual, nem a do nascer de novo, nem a condenação das exigências dos rituais dos fariseus. O que podem esperar ou reclamar agora?  (...)

Há mais apego a matéria nas práticas e nos conceitos das religiões em agonia do que nos ritos selvagens, pois nestes a crença ingênua e instintiva manifestava-se naturalmente, enquanto naquelas é puro artifício, tentativa de racionalização psicológica de heranças atávicas (hereditárias, ancestrais.)” (...)

Livro: Tempos de Agonia.

Autor: José Herculano Pires.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  “Bem-Aventurados os Pobres Pelo Espírito!”   (Mateus 5, 3)      “ Poucas palavras do Evangelho sofreram, através dos séculos, tão grande...