Introdução (extrato)
(...) “Na linguagem técnica
adotada pela Sociedade Inglesa de Pesquisas Psíquicas, o fenômeno
“premonitório” recebeu esta simples definição: “Predição supranormal de um
acontecimento futuro qualquer”; e esta definição parece feliz e adequada;
(...)
(...) O termo “premonição”
encontra-se como sinônimo deste outro: “clarividência no futuro”,
empregado pelos antigos magnetólogos, e ambos compreendem todos os casos que,
segundo suas modalidades particulares de manifestação, tomam na linguagem comum
os nomes de “pressentimento”, “aviso”, “predição”, “adivinhação”, “profecia”.
Com relação ao valor
intrínseco do fenômeno em questão, encontro-me de acordo com o Dr. Samona, cujo
parecer é de que “entre os fenômenos metapsíquicos, os premonitórios, que
todavia desafiam todas as nossas concepções mais audaciosas para chegar à sua
explicação, estão entre aqueles de cuja existência menos se permite duvidar,
pois há casos verdadeiramente autênticos diante dos quais somos forçados a nos
inclinar, apesar da sua “ininteligibilidade absoluta” (não se pode compreender
totalmente).
Para se chegar à conclusão da
frequência com a qual eles se realizam, basta consultar a história dos povos;
aí recolher-se-ão numerosos exemplos, e em todas as épocas. E se queremos
recorrer ao critério prático do testemunho humano, constataremos que
interrogando um grupo de pessoas pegas ao acaso, é bem difícil que nenhuma
delas não tenha um incidente pessoal do gênero para contar; o que não se pode
afirmar para a telepatia. De modo que somos levados a concluir que os fenômenos
premonitórios tomam lugar entre os mais comuns da casuística metapsíquica (ciência
que estuda os fenômenos psíquicos anormais, como a clarividência, a telepatia,
a visão dupla).
Eles se dão, na sua grande
maioria, durante o sono natural ou provocado; mais raramente em condições de
vigília; e mesmo quando isso acontece, é fácil encontrar sempre indícios que
permitem reconhecer um estado mais ou menos disfarçado de auto-hipnose leve ou
de “ausência psíquica”, no sensitivo. (...)
Seus modos de exteriorização
são mais variados e compreendem toda a gama da casuística metapsíquica. Na sua
forma mais simples, consistem num vago sentimento de ansiedade profunda ou de
sombrio presságio, sentimento não motivado e invencível, que leva
inconscientemente a pessoa a orientar seu próprio pensamento para o de tal
pessoa, ou a esta ordem especial de acontecimentos que constituirão o objeto da
premonição. Mais comumente, eles assumem uma forma de visualização
alucinatória, tanto espontânea quanto provocada, na qual os quadros de
acontecimentos futuros manifestam-se ao sensitivo numa sucessão extremamente
fugaz, tanto em agrupamentos plásticos, quanto em ação cinematográfica, às
vezes, com a aparência de acontecimentos reais, outras vezes de uma maneira
ideográfica e simbólica; em tal caso a verdadeira significação do símbolo não
parecerá totalmente desvendada senão após a realização do acontecimento. Não
menos frequentemente eles se apresentam sob forma de audição alucinatória, onde
uma voz, reconhecida, às vezes, como interior ou subjetiva, ou revestindo um
timbre objetivo, e frequentemente familiar, efetua uma predição, numa linguagem
mais ou menos enigmática, dos acontecimentos futuros. Em outras circunstâncias
eles se traduzem num fenômeno fônico com um cunho decididamente objetivo, como,
por exemplo, quando batidas, gemidos, ruídos de toda espécie (fiéis em cada um
dos casos à sua modalidade de exteriorização) reproduzem-se tradicionalmente
numa família para anunciar a morte de um de seus membros. (...) Nota-se ainda
um gênero de premonições transmitidas sob forma de impulsão motriz irrefreável,
que impulsiona o sensitivo a atos que parecem absurdos porque não motivados,
como, por exemplo, voltar sobre seus passos, dar uma corrida, trocar de lugar
ou de caminho, escapando dessa maneira de um grave perigo que o ameaçava com
seu desconhecimento. Contaremos finalmente um último gênero, muito mais raro,
premonições que assumem uma forma divinatória, de maneira que o sensitivo é
levado, contra a vontade, a exprimir profecias pelas quais não se sente
responsável; nesse caso, a forma orácula que assumem de hábito suas palavras
faz pensar nas respostas dos oráculos greco-romanos.
Um dos caracteres especiais
dos fenômenos que estudamos é o de se referir, originariamente, aos
conhecimentos dolorosos, raramente a incidentes alegres. (...)
Um outro aspecto do seu
caráter, digno de nota, consistiria no fato de que um grande número de sonhos
premonitórios visitam por várias vezes, e sempre de maneira idêntica, o
sensitivo, seja na mesma noite, seja em outras sucessivas, como se
quisesse reiterar nele a impressão sobre aquele que dorme, com
o objetivo de torná-la mais durável, o que nunca deixa de se realizar em tais
circunstâncias. Entretanto, quando se vê esse fenômeno efetuar-se em numerosos
casos, poder-se-ia ao mesmo tempo adiantar que o caráter desses mesmos sonhos
consiste numa tendência oposta, a de mostrar uma labilidade (instabilidade
emocional) sui generis; labilidade que difere, entretanto
grandemente da dos sonhos comuns, já que, de um lado, o sonho premonitório é,
principalmente, muito mais vivaz do que o sonho comum, embora o sensitivo
conserve dele uma lembrança muito clara ao despertar, unida a um interesse
inabitual através desse sonho (o que leva o sensitivo a contá-lo, ou dele tomar
nota), mas que, por outro lado, esse mesmo sonho ainda que lembrado, repetido,
comentado, escrito (todas as circunstâncias que deveriam fixá-lo nos centros
mnemônicos – relativo à memorização; fácil de reter na memória), está
quase sempre sujeito a uma rápida e total obliteração; este, por sua vez, será
efêmero e transitório, pois no momento em que se realizarão os incidentes
vistos em sonho, a lembrança do sonho surgirá como um relâmpago no espírito do
sensitivo com toda sua vivacidade primeira. (...)
Um terceiro caráter dos
fenômenos premonitórios concerne à “noção do tempo”; essa noção pareceria um
elemento impossível de traduzir em nossos termos humanos, do “plano
supranormal” ao “plano mental”; por conseguinte, as datas dos fenômenos
premonitórios perduram quase sempre imprecisas, e o vidente no sonambulismo, ou
um outro em seu lugar, julga aproximadamente o tempo de diferentes maneiras,
mas com mais frequência, de acordo com a distância na qual se apresenta na sua
visão interior o quadro dos acontecimentos futuros; se é muito próximo, ele
concluirá que o acontecimento deve se produzir em breve, e nesse caso o hábito
poderá permitir-lhe precisar até o dia e a hora; se, ao contrário, a visão é
mais ou menos distante, apenas chegará a designar a semana, o mês, o ano em que
deverá efetuar-se a profecia. Esta regra, entretanto, comporta numerosas
exceções, por exemplo, quando o sensitivo visualiza uma data, e não outra
coisa, que se pensará ser a data de sua própria morte, ou da morte de um
familiar ou de um outro acontecimento memorável que se refere a ele ou ao seu
consulente. (...) Como se vê, os modos de exteriorização dos fenômenos
premonitórios são tão atrapalhados e tão complexos, que parecem contraditórios;
e entretanto tudo concorre para provar que essa confusão depende do fato
apontado mais acima: que esses fenômenos, ainda que pareçam ter uma origem
comum, devem-se, em realidade, a causas múltiplas.
Observarei ainda uma quarta
particularidade comum a um grande número de manifestações premonitórias, que
consiste nisto: o sensitivo percebe ou registra, inteiramente ou em parte, os
dados secundários que se referem a um acontecimento futuro e não percebe ou não
registra os dados essenciais, de modo que ele se mantém sobre o acontecimento
que o aguarda, prontamente instruído para entretê-lo, mas não para penetrá-lo,
razão pela qual não chega a evitá-lo.” (...)
Livro: “Fenômenos
Premonitórios” - Autor: Ernesto Bozzano.
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