sexta-feira, 21 de outubro de 2022

 

Introdução (extrato)

(...) “Na linguagem técnica adotada pela Sociedade Inglesa de Pesquisas Psíquicas, o fenômeno “premonitório” recebeu esta simples definição: “Predição supranormal de um acontecimento futuro qualquer”; e esta definição parece feliz e adequada; (...)

(...) O termo “premonição” encontra-se como sinônimo deste outro: “clarividência no futuro”, empregado pelos antigos magnetólogos, e ambos compreendem todos os casos que, segundo suas modalidades particulares de manifestação, tomam na linguagem comum os nomes de “pressentimento”, “aviso”, “predição”, “adivinhação”, “profecia”.

Com relação ao valor intrínseco do fenômeno em questão, encontro-me de acordo com o Dr. Samona, cujo parecer é de que “entre os fenômenos metapsíquicos, os premonitórios, que todavia desafiam todas as nossas concepções mais audaciosas para chegar à sua explicação, estão entre aqueles de cuja existência menos se permite duvidar, pois há casos verdadeiramente autênticos diante dos quais somos forçados a nos inclinar, apesar da sua “ininteligibilidade absoluta” (não se pode compreender totalmente).

Para se chegar à conclusão da frequência com a qual eles se realizam, basta consultar a história dos povos; aí recolher-se-ão numerosos exemplos, e em todas as épocas. E se queremos recorrer ao critério prático do testemunho humano, constataremos que interrogando um grupo de pessoas pegas ao acaso, é bem difícil que nenhuma delas não tenha um incidente pessoal do gênero para contar; o que não se pode afirmar para a telepatia. De modo que somos levados a concluir que os fenômenos premonitórios tomam lugar entre os mais comuns da casuística metapsíquica (ciência que estuda os fenômenos psíquicos anormais, como a clarividência, a telepatia, a visão dupla).

Eles se dão, na sua grande maioria, durante o sono natural ou provocado; mais raramente em condições de vigília; e mesmo quando isso acontece, é fácil encontrar sempre indícios que permitem reconhecer um estado mais ou menos disfarçado de auto-hipnose leve ou de “ausência psíquica”, no sensitivo. (...)

Seus modos de exteriorização são mais variados e compreendem toda a gama da casuística metapsíquica. Na sua forma mais simples, consistem num vago sentimento de ansiedade profunda ou de sombrio presságio, sentimento não motivado e invencível, que leva inconscientemente a pessoa a orientar seu próprio pensamento para o de tal pessoa, ou a esta ordem especial de acontecimentos que constituirão o objeto da premonição. Mais comumente, eles assumem uma forma de visualização alucinatória, tanto espontânea quanto provocada, na qual os quadros de acontecimentos futuros manifestam-se ao sensitivo numa sucessão extremamente fugaz, tanto em agrupamentos plásticos, quanto em ação cinematográfica, às vezes, com a aparência de acontecimentos reais, outras vezes de uma maneira ideográfica e simbólica; em tal caso a verdadeira significação do símbolo não parecerá totalmente desvendada senão após a realização do acontecimento. Não menos frequentemente eles se apresentam sob forma de audição alucinatória, onde uma voz, reconhecida, às vezes, como interior ou subjetiva, ou revestindo um timbre objetivo, e frequentemente familiar, efetua uma predição, numa linguagem mais ou menos enigmática, dos acontecimentos futuros. Em outras circunstâncias eles se traduzem num fenômeno fônico com um cunho decididamente objetivo, como, por exemplo, quando batidas, gemidos, ruídos de toda espécie (fiéis em cada um dos casos à sua modalidade de exteriorização) reproduzem-se tradicionalmente numa família para anunciar a morte de um de seus membros. (...) Nota-se ainda um gênero de premonições transmitidas sob forma de impulsão motriz irrefreável, que impulsiona o sensitivo a atos que parecem absurdos porque não motivados, como, por exemplo, voltar sobre seus passos, dar uma corrida, trocar de lugar ou de caminho, escapando dessa maneira de um grave perigo que o ameaçava com seu desconhecimento. Contaremos finalmente um último gênero, muito mais raro, premonições que assumem uma forma divinatória, de maneira que o sensitivo é levado, contra a vontade, a exprimir profecias pelas quais não se sente responsável; nesse caso, a forma orácula que assumem de hábito suas palavras faz pensar nas respostas dos oráculos greco-romanos.

Um dos caracteres especiais dos fenômenos que estudamos é o de se referir, originariamente, aos conhecimentos dolorosos, raramente a incidentes alegres. (...)

Um outro aspecto do seu caráter, digno de nota, consistiria no fato de que um grande número de sonhos premonitórios visitam por várias vezes, e sempre de maneira idêntica, o sensitivo, seja na mesma noite, seja em outras sucessivas, como se quisesse reiterar nele a impressão sobre aquele que dorme, com o objetivo de torná-la mais durável, o que nunca deixa de se realizar em tais circunstâncias. Entretanto, quando se vê esse fenômeno efetuar-se em numerosos casos, poder-se-ia ao mesmo tempo adiantar que o caráter desses mesmos sonhos consiste numa tendência oposta, a de mostrar uma labilidade (instabilidade emocional) sui generis; labilidade que difere, entretanto grandemente da dos sonhos comuns, já que, de um lado, o sonho premonitório é, principalmente, muito mais vivaz do que o sonho comum, embora o sensitivo conserve dele uma lembrança muito clara ao despertar, unida a um interesse inabitual através desse sonho (o que leva o sensitivo a contá-lo, ou dele tomar nota), mas que, por outro lado, esse mesmo sonho ainda que lembrado, repetido, comentado, escrito (todas as circunstâncias que deveriam fixá-lo nos centros mnemônicos – relativo à memorização; fácil de reter na memória), está quase sempre sujeito a uma rápida e total obliteração; este, por sua vez, será efêmero e transitório, pois no momento em que se realizarão os incidentes vistos em sonho, a lembrança do sonho surgirá como um relâmpago no espírito do sensitivo com toda sua vivacidade primeira. (...)

Um terceiro caráter dos fenômenos premonitórios concerne à “noção do tempo”; essa noção pareceria um elemento impossível de traduzir em nossos termos humanos, do “plano supranormal” ao “plano mental”; por conseguinte, as datas dos fenômenos premonitórios perduram quase sempre imprecisas, e o vidente no sonambulismo, ou um outro em seu lugar, julga aproximadamente o tempo de diferentes maneiras, mas com mais frequência, de acordo com a distância na qual se apresenta na sua visão interior o quadro dos acontecimentos futuros; se é muito próximo, ele concluirá que o acontecimento deve se produzir em breve, e nesse caso o hábito poderá permitir-lhe precisar até o dia e a hora; se, ao contrário, a visão é mais ou menos distante, apenas chegará a designar a semana, o mês, o ano em que deverá efetuar-se a profecia. Esta regra, entretanto, comporta numerosas exceções, por exemplo, quando o sensitivo visualiza uma data, e não outra coisa, que se pensará ser a data de sua própria morte, ou da morte de um familiar ou de um outro acontecimento memorável que se refere a ele ou ao seu consulente. (...) Como se vê, os modos de exteriorização dos fenômenos premonitórios são tão atrapalhados e tão complexos, que parecem contraditórios; e entretanto tudo concorre para provar que essa confusão depende do fato apontado mais acima: que esses fenômenos, ainda que pareçam ter uma origem comum, devem-se, em realidade, a causas múltiplas.

Observarei ainda uma quarta particularidade comum a um grande número de manifestações premonitórias, que consiste nisto: o sensitivo percebe ou registra, inteiramente ou em parte, os dados secundários que se referem a um acontecimento futuro e não percebe ou não registra os dados essenciais, de modo que ele se mantém sobre o acontecimento que o aguarda, prontamente instruído para entretê-lo, mas não para penetrá-lo, razão pela qual não chega a evitá-lo.” (...)

 

Livro: “Fenômenos Premonitórios” - Autor: Ernesto Bozzano.

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