sábado, 5 de novembro de 2022

 

Livro: “A Trajetória Evolutiva do Ser”.                                      Autor: Djalma Argollo.

Cap. 5 – “O Plano Espiritual”.

 

“Zonas Purgatoriais e Sofrimento no Plano Espiritual”.

 

“Se a ignorância é um óbice difícil no momento da morte, a consciência culpada conhece instantes de inqualificável dor. A mente acostumada com o erro libera, quando da crise da morte, pavorosos quadros, diante dos quais os antigos relatos sobre os sofrimentos infernais parecem aprazíveis. No livro “O Céu e o Inferno” – 2ª Parte – “Criminosos Arrependidos” (Bordeaux 1862), encontra-se o depoimento de um Espírito que se apresenta ao médium espontaneamente, sob o nome de Benoist, diz ter morrido em 1704 e suportar horríveis padecimentos. São feitas perguntas ao Espírito: 1. O que eras durante a vida? – R: Monge sem fé. 2. A descrença é vossa única falta? – R: Ela é suficiente para ocasionar as outras. 3. Podeis nos dar alguns detalhes sobre vossa vida? A sinceridade de vossa confissão vos será levada em conta. – R: Sem fortuna e preguiçoso, tomei as ordens, não por vocação, mas para ter uma posição. Inteligente, eu galguei posição; influente, abusei do poder; vicioso, arrastei nas desordens aqueles a quem tinha a missão de salvar; duro, persegui aqueles que tinham o ar de condenar meus excessos. Os mansos foram atenciosamente vigiados. A fome torturou muitas vítimas; seus gritos foram muitas vezes extintos pela violência. Desde então expio e sofro todas as torturas do inferno; minhas vítimas atiçam o fogo que me devora. A luxúria e a fome insaciadas me perseguem; a sede irrita meus lábios em brasa, sem jamais aí deixar cair uma gota refrescante...”

A mente contaminada pelo crime ou vício é fonte de inomináveis padecimentos. A morte daquele que fez do vício e do crime a razão de viver inspira piedade, porque se transforma numa conjuntura incontrolável de paixões em desalinho, além de se tornar, por sua vez, vítima de suas antigas vítimas, agora transformadas em algozes odientos e implacáveis. Perseguem-no ainda em vida e, durante o transe da morte, redobram seus assaltos, exacerbando-lhe os padecimentos, por meio de uma pertinaz influência obsessiva, que continua após o desligamento do corpo nas regiões espirituais.

André Luiz assim se refere a essas regiões em “Evolução em Dois Mundos”, Parte 1, Cap. 16, Zonas Purgatoriais: "Obliterados os núcleos energéticos da alma, capazes de conduzi-la às sensações de euforia e elevação, entendimento e beleza, precipita-se a mente, pelo excesso da taxa de remorso nos fulcros da memória, na dor do arrependimento a que se encarcera por automatismo, conforme os princípios de responsabilidade a se lhe delinearem no ser, plasmando com os seus próprios pensamentos as telas temporárias, mas por vezes de longuíssima duração, em que contempla, incessantemente, por reflexão mecânica, o fruto amargo de suas próprias obras, até que se esgotem os resíduos das culpas esposadas ou receba caridosa intervenção dos agentes do amor divino, que, habitualmente, lhe oferecem o preparo adequado para a reencarnação necessária, pela qual retornará ao aprendizado prático das lições em que faliu. É dessa forma que os suicidas, com agravantes à frente do Plano Espiritual, como também os delinquentes de variada categoria, padecem por largo tempo a influência constante das aflitivas criações mentais deles mesmos, a elas aprisionados, pela fixação monoidéica de certos núcleos do corpo espiritual, em detrimento de outros que se mantêm malbaratados e oclusos. E porque o pensamento é força criativa e aglutinante na criatura consciente em plena Criação, as imagens plasmadas pelo mal, à custa da energia inestancável que lhe constitui atributo inalienável e imanente, servem para a formação das paisagens regenerativas em que a alma alucinada pelos próprios remorsos é detida em sua marcha, ilhando-se nas consequências dos próprios delitos, em lugares que, retendo a associação de centenas e milhares de transviados, se transformam em verdadeiros continentes de angústia, filtros de aflição e de dor, em que a loucura ou a crueldade, juguladas pelo sofrimento que geram para si mesmas, se rendem lentamente ao raciocínio equilibrado, para a readmissão indispensável ao trabalho remissor.”

O beletrista espiritual, que sabe aliar o pensamento científico com o religioso, na moldura de uma prosa dinâmica e bela, instrui-nos sobre a formação desses ambientes de dor, ao qual se referem as comunicações mediúnicas, mostrando que se formam a partir dos desequilíbrios instalados na mente, por culpa dos desatinos criminosos, praticados durante a encarnação. Mas deixa claro que esses bolsões de miséria espiritual são temporários, atendendo aos propósitos de retificação das consciências em desalinho.

É ainda o Médico Espiritual quem volta ao tema, em outra de suas obras: “Mecanismos da Mediunidade”, Cap. 24, “Zonas Purgatoriais” do 1º ao 4º §:  "Entendendo-se que todos os delinquentes deitam de si oscilações mentais de terrível caráter, condensando as recordações malignas que albergam no seio, compreenderemos a existência das zonas purgatórias ou infernais, como regiões em que se complementam as temporárias criações do remorso, associando arrependimento e amargura, desespero e rebelião. Na intimidade dessas províncias de sombra, em que se agrupam multidões de criminosos, segundo a espécie de delito que cometeram, Espíritos culpados, através das ondas mentais com que essencialmente se afinam, se comunicam reciprocamente, gerando, ante os seus olhos, quadros vivos de extremo horror, junto dos quais desvairam, recebendo, de retorno, os estranhos padecimentos que criaram no ânimo alheio. Claro está que, embora comandados por Inteligências pervertidas ou bestializadas nas trevas da ignorância, esses antros jazem circunscritos no Espaço, fiscalizados por Espíritos sábios e benfazejos que dispõem de meios precisos para observar a transformação individual das consciências em processo de purificação ou regeneração, a fim de conduzi-las a providências compatíveis com a melhoria alcançada. Semelhante supervisão, entretanto, não impede que essas vastas cavernas de tormento reeducativo sejam, em si, imensas penitenciárias do Espirito, a que se recolhem as feras conscientes que foram homens. Aí permanecem detidas por guardas especializados, que lhe são afins, o que nos faz definir cada “purgatório particular” como “prisão-manicômio”, em que as almas embrutecidas no crime sofrem, de volta, o impacto de suas fecundações mentais infelizes".  

A referência a "cavernas" onde ficam Espíritos embrutecidos no mal não é uma figura de retórica, mas descrição de um fato encontradiço nas regiões invisíveis e referido desde tempos imemoriais até narrações de Swedenborg (...) Sabemos, porém, (...) que esses antros de dor permitidos pela Misericórdia de Deus se transformam em locais de tratamento, rude é verdade, e recuperação das almas rebeldes, as quais retornarão, cedo ou tarde, aos caminhos da virtude e da fraternidade, marchando para a perfeição, meta iniludível de todos os seres criados.”

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