Livro: “A
Trajetória Evolutiva do Ser”. Autor: Djalma
Argollo.
Cap. 5 – “O Plano Espiritual”.
“Zonas Purgatoriais e Sofrimento
no Plano Espiritual”.
“Se a ignorância
é um óbice difícil no momento da morte, a consciência culpada conhece
instantes de inqualificável dor. A mente acostumada com o erro libera,
quando da crise da morte, pavorosos quadros,
diante dos quais os antigos relatos sobre os sofrimentos infernais parecem
aprazíveis. No livro “O
Céu e o Inferno” – 2ª Parte – “Criminosos Arrependidos” (Bordeaux 1862),
encontra-se o depoimento de um Espírito que se apresenta ao médium espontaneamente,
sob o nome de Benoist, diz ter morrido em 1704 e suportar horríveis
padecimentos. São feitas perguntas ao Espírito: 1. O que
eras durante a vida? – R: Monge sem fé. 2. A descrença é vossa
única falta? – R: Ela é suficiente para ocasionar as outras. 3.
Podeis nos dar alguns detalhes sobre vossa vida? A sinceridade de vossa
confissão vos será levada em conta. – R: Sem fortuna e preguiçoso, tomei
as ordens, não por vocação, mas para ter uma posição. Inteligente, eu galguei
posição; influente, abusei do poder; vicioso, arrastei nas desordens aqueles a
quem tinha a missão de salvar; duro, persegui aqueles que tinham o ar de
condenar meus excessos. Os mansos foram atenciosamente vigiados. A fome
torturou muitas vítimas; seus gritos foram muitas vezes extintos pela
violência. Desde então expio e sofro todas as torturas do inferno; minhas
vítimas atiçam o fogo que me devora. A luxúria e a fome insaciadas me
perseguem; a sede irrita meus lábios em brasa, sem jamais aí deixar cair uma
gota refrescante...”
A mente contaminada
pelo crime ou vício é fonte de inomináveis padecimentos. A morte daquele que
fez do vício e do crime a razão de viver inspira piedade, porque se transforma
numa conjuntura incontrolável de paixões em desalinho, além de se tornar, por
sua vez, vítima de suas antigas vítimas, agora transformadas em algozes
odientos e implacáveis. Perseguem-no ainda em vida e, durante o transe da
morte, redobram seus assaltos, exacerbando-lhe os padecimentos, por meio de uma
pertinaz influência obsessiva, que continua após o desligamento do corpo nas
regiões espirituais.
André
Luiz
assim se refere a essas regiões em “Evolução em Dois Mundos”, Parte 1, Cap.
16, Zonas Purgatoriais: "Obliterados os
núcleos energéticos da alma, capazes de conduzi-la às sensações de euforia e
elevação, entendimento e beleza, precipita-se a mente, pelo excesso da taxa de
remorso nos fulcros da memória, na dor do arrependimento a que se encarcera por
automatismo, conforme os princípios de responsabilidade a se lhe delinearem no
ser, plasmando com os seus próprios pensamentos as telas temporárias, mas por
vezes de longuíssima duração, em que contempla, incessantemente, por reflexão
mecânica, o fruto amargo de suas próprias obras, até que se esgotem os resíduos
das culpas esposadas ou receba caridosa intervenção dos agentes do amor divino,
que, habitualmente, lhe oferecem o preparo adequado para a reencarnação
necessária, pela qual retornará ao aprendizado prático das lições em que
faliu. É dessa forma que os suicidas, com agravantes à frente do Plano Espiritual, como
também os delinquentes de variada categoria, padecem por largo tempo a
influência constante das aflitivas criações mentais deles mesmos, a elas
aprisionados, pela fixação monoidéica de certos núcleos do corpo espiritual, em
detrimento de outros que se mantêm malbaratados e oclusos. E
porque o pensamento é força criativa e aglutinante na criatura consciente em
plena Criação, as imagens plasmadas pelo mal, à custa da energia inestancável
que lhe constitui atributo inalienável e imanente, servem para a formação das
paisagens regenerativas em que a alma alucinada pelos próprios remorsos é detida
em sua marcha, ilhando-se nas consequências dos próprios delitos, em lugares
que, retendo a associação de centenas e milhares de transviados, se transformam
em verdadeiros continentes de angústia, filtros de aflição e de dor, em que a
loucura ou a crueldade, juguladas pelo sofrimento que geram para si mesmas, se
rendem lentamente ao raciocínio equilibrado, para a readmissão indispensável ao
trabalho remissor.”
O beletrista
espiritual, que sabe aliar o pensamento científico com o religioso, na moldura
de uma prosa dinâmica e bela, instrui-nos sobre a formação desses ambientes de
dor, ao qual se referem as comunicações mediúnicas, mostrando que se formam a
partir dos desequilíbrios instalados na mente, por culpa dos desatinos
criminosos, praticados durante a encarnação. Mas deixa claro que esses bolsões
de miséria espiritual são temporários, atendendo aos propósitos de retificação
das consciências em desalinho.
É ainda o
Médico Espiritual quem volta ao tema, em outra de suas obras: “Mecanismos da
Mediunidade”, Cap. 24, “Zonas Purgatoriais” do 1º ao 4º §: "Entendendo-se
que todos os delinquentes
deitam de si oscilações mentais de terrível caráter, condensando as recordações
malignas que albergam no seio, compreenderemos a existência das zonas
purgatórias ou infernais, como regiões em que se complementam as temporárias
criações do remorso, associando arrependimento e amargura, desespero e
rebelião. Na intimidade dessas províncias de sombra, em que se agrupam
multidões de criminosos, segundo a espécie de delito que cometeram, Espíritos
culpados, através das ondas mentais com que essencialmente se afinam, se
comunicam reciprocamente, gerando, ante os seus olhos, quadros vivos de extremo
horror, junto dos quais desvairam, recebendo, de retorno, os estranhos
padecimentos que criaram no ânimo alheio. Claro está que, embora comandados por
Inteligências pervertidas ou bestializadas nas trevas da ignorância, esses
antros jazem circunscritos no Espaço, fiscalizados por Espíritos sábios e benfazejos
que dispõem de meios precisos para observar a transformação individual das
consciências em processo de purificação ou regeneração, a fim de conduzi-las a
providências compatíveis com a melhoria alcançada. Semelhante supervisão,
entretanto, não impede que essas vastas cavernas de tormento reeducativo sejam,
em si, imensas penitenciárias do Espirito, a que se recolhem as feras
conscientes que foram homens. Aí permanecem detidas por guardas especializados,
que lhe são afins, o que nos faz definir cada “purgatório particular” como “prisão-manicômio”,
em que as almas embrutecidas no crime sofrem, de volta, o impacto de suas
fecundações mentais infelizes".
A referência a "cavernas"
onde ficam Espíritos embrutecidos no mal não é uma figura de retórica, mas
descrição de um fato encontradiço nas regiões invisíveis e referido desde
tempos imemoriais até narrações de Swedenborg (...) Sabemos, porém, (...) que
esses antros de dor permitidos pela Misericórdia de Deus se transformam em
locais de tratamento, rude é verdade, e recuperação das almas rebeldes, as
quais retornarão, cedo ou tarde, aos caminhos da virtude e da fraternidade,
marchando para a perfeição, meta iniludível de todos os seres criados.”
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