“Parábola da Dracma Perdida” (Lucas
15, 8 – 10)
“Estas
Parábolas são muito fáceis de interpretar e muito claras ao informarem que o arrependimento
é uma necessidade e que quando alguém se arrepende é motivo de júbilo no
"céu", isto é, em nossa consciência,
onde os "anjos de Deus", ou seja,
as Leis Divinas nos convidam o tempo todo a praticar atos nobres diante
da vida e a nos encontrar, ao invés de vivermos perdidos, praticando atos egóicos (relativo ao ego a personalidade; fala e
pensa em si o tempo todo), egoísticos e egocêntricos (quando alguém se coloca no centro
das atenções: narcisista; arrogante; individualista;).
A
nossa cultura, no entanto, principalmente nas sociedades ocidentais, é de cultuar
a culpa e a sua companheira, a desculpa, mas essa atitude é totalmente
improdutiva, bem diferente do que acontece quando há arrependimento.
O
processo de culpabilidade, em que se vitaliza o movimento de desamor por si
mesmo, a pessoa que se culpa acaba por se julgar e
se condenar, depois se punindo todas as vezes que erra. No processo
da desculpa, a pessoa se desculpa sempre projetando a culpa nos outros,
pois se julga, percebe que errou, mas se justifica, fugindo da culpa e
projetando-a em alguém ou em algo, até em Deus ou na vida.
Todos
nós somos convidados a nos arrepender, por ser este um ato positivo. (...)
Quando
nos julgamos, condenamos e punimos, ficamos
entregues ao remorso e à culpa. As pessoas que já experimentaram
estes sentimentos sabem que são intensamente tormentosos e que eles só
desaparecem mediante o arrependimento, gerador do autoperdão.
A
culpa nos faz sentir numa situação que requer tratamento. A consciência de
culpa não seria exatamente uma consciência, na acepção mais profunda do
termo, mas uma pseudoconsciência, um processo de perversão da consciência. (...)
Quando
cometemos um erro, estamos assumindo uma postura egoica. Essa atitude
equivocada pode acontecer por ignorância ou por desprezo ao que é correto, o
que continua, de certa forma, sendo ignorância: a do não sentir. A
pessoa já sabe que errou, mas ainda não consegue sentir isso.
Errar, portanto, é ignorar,
seja no nível do conhecimento, seja no do sentimento, aquilo que está em
conformidade com os princípios da Lei de amor, justiça e caridade.
Por
exemplo, o mandamento cristão de "amar o próximo como a si
mesmo" (Mateus 22, 39) é
facilmente entendido no nível do saber, mas senti-lo no coração é muito
trabalhoso, pois é preciso muito exercício. Por isso, o ensinamento ainda é
pouco vivenciado.
Toda
atitude equivocada tem, no entanto, a sua consequência, com a qual
sempre arcaremos, pois deixa em nossa consciência marcas mais ou menos
profundas, dependendo do erro cometido.
Estudemos,
detalhadamente, o movimento egoico relativo à culpa e o movimento essencial
para dela nos libertarmos, sabendo que o movimento egoico sempre apresenta duas
polaridades: uma passiva e outra reativa. Na polaridade passiva, temos o desculpismo,
e na reativa, o culpismo.
O
processo do culpismo é formado por três atitudes: julgamento,
condenação e punição, que pode ser tanto de si mesmo, como dos
outros.
Diante
de um ato equivocado cometido, a pessoa se autojulga, considerando a
ação errada, por isso se autocondena e posteriormente se autopune,
para sofrer as consequências de seu erro. Em algumas pessoas, seguindo-se à
autopunição, existe uma quarta atitude, que é a de autopiedade, quando,
sentindo-se uma coitada, sofre dolorosamente, sem cogitar sobre o perdão.
O
mesmo fazemos com relação aos erros dos outros: julgamos, condenamos e punimos
os que consideramos culpados. Percebamos que esse é um processo de pseudoconsciência e de pseudorresponsabilidade,
pois com esse movimento a pessoa não muda, em nada, o ato praticado.
O
processo do desculpismo também é formado por três atitudes: julgamento,
justificativa e irresponsabilidade.
Diante
de um ato equivocado, a pessoa se autojulga,
considerando a ação errada, mas ao invés de se autocondenar, como no processo
anterior, se autojustifica, buscando culpar
outras pessoas, imaginárias ou reais, como a sociedade, o governo ou até Deus,
pelo seu equívoco, assumindo uma conduta irresponsável, tentando fugir
do erro praticado, como se isso lhe fosse possível.
Da mesma forma
que no culpismo, podemos usar, também, o desculpismo com os outros; quando
percebemos algum comportamento errado nas pessoas, nós o justificamos de forma
irresponsável. Normalmente agimos assim com pessoas
próximas a nós, a quem dizemos amar, mas às quais, na verdade,
envolvemos com pseudoamor, conivindo com seus erros. (...)
Quando
se cai, exige-se um esforço para se levantar. Todo corpo precisa se esforçar
para manter-se de pé. Ficar caído parece mais cômodo, além de causar nas outras
pessoas uma comoção, mas nessa postura de pseudoamor, de autopiedade, o que a
criatura recebe são migalhas de afetividade.
Quem
se culpa não assume a responsabilidade de se
conduzir na sua vida. Opta pelo mais fácil, que é sofrer e se sentir um
coitado, em vez de tomar nas mãos a responsabilidade por construir a
própria felicidade com o necessário esforço pessoal. Por essa razão, o ato de
culpar-se, em um nível profundo de análise, é um movimento de fuga.
Para
nos libertarmos, tanto da culpa, quanto da desculpa, necessitamos cultivar o
processo do arrependimento gerador da ação responsável. Ele é
fruto da observação amorosa, tanto de nós mesmos, quanto dos outros, e com ele
nos responsabilizamos pelos nossos atos. Somente por meio do amor podemos nos
libertar da culpa e da tentativa de fugir dela.
Vejamos
como podemos proceder. A ação responsável é um processo de autoconsciência,
composto das seguintes atitudes: responsabilização, arrependimento,
autoanálise, aprendizado e reparação.
Todo
ser humano é ainda imperfeito e, por isso, quando realizamos uma ação, sempre
teremos dois resultados: o acerto ou o erro. O acerto,
segundo a visão transpessoal, será sempre um ato de amor diante da vida.
O erro, como vimos anteriormente, é um ato de desamor, evidente
ou oculto, que acontece pela ignorância do não saber, ou do não sentir. (...)
A
ação responsável abrange um processo de autoexame consciente, propiciador
do autoperdão, e que se inicia com a autoconsciência, na qual a
pessoa se observa para perceber os seus atos, classificando-os em acertos,
quando estiverem em conformidade com a Lei de amor, justiça e caridade, e em
erros, quando provenientes do desamor e do pseudoamor (falso amor) que a
afrontam.
Ao
se perceber em erro, ao invés do julgamento gerador do remorso ineficaz
e proveniente da consciência de culpa, ou da
tentativa infrutífera de fuga, o indivíduo adota uma atitude
responsável, não mais de autoacusação, pois, conscientizando-se do ato
cometido, conclui que somente ele mesmo poderá repará-lo.
Após
assumir a responsabilidade, chega ao arrependimento. Sendo o erro
praticado um ato de desamor, contrário às Leis Divinas e, por isso, é de fato
necessário se arrepender de tê-lo cometido.
Após
se arrepender, inicia uma autoanálise do erro, buscando examiná-lo,
isto é, refletir sobre o motivo pelo qual o cometeu e sobre o que o levou a
agir com desamor, para poder aprender com o erro.
Percebamos,
com isso, que o erro faz parte da didática divina,
pois, do contrário, Ele nos teria criado perfeitos para não errar. Se
buscarmos sempre nos erros cometidos um aprendizado, estaremos
evoluindo, tanto com os acertos, adquirindo uma conquista-êxito,
quanto com os erros, adquirindo uma conquista-aprendizado. No
final, o que conta sempre é a evolução do Ser Espiritual em busca da sua
iluminação.
Após
ter buscado aprender com o erro, é necessário iniciar ações de reparação.
A ação responsável diante da vida exige que reparemos o desamor,
transformando tal atitude em atos de amor.
Portanto,
o autoperdão não é uma simples anulação do erro de forma fácil, como
muitos pensam, mas uma ação consciente que requer responsabilidade,
arrependimento, muita autoanálise, aprendizado e reparação. Buscando
praticar ações amorosas diante da vida, vamos substituindo, gradativamente, o
desamor e o pseudoamor que existem em nós pelo amor, transformando as energias
egoicas em energias essenciais.
Esse
é o movimento interno que propicia o autoperdão. Se não
se perdoa, a pessoa carrega, desnecessariamente, o fardo pesado do
remorso e da culpa; se não perdoa os outros,
carrega, inutilmente, o fardo pesado do ressentimento, da mágoa e do ódio.
Com isso, a vida se lhe torna insuportável.
No
entanto, se o indivíduo assume a mansidão e a humildade preconizadas por Jesus,
poderá dar-se a oportunidade de refazer o caminho, por meio do
autoperdão: Mateus, 11, 28 – 30 à "Vinde
a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei comigo, que sou manso e humilde de coração, e
encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu
fardo é leve.". (...)
Somente
cultivando o autoamor é que iremos evoluir, e não odiando a nós
mesmos, no processo de culpa. Aquele que se autoama, enche-se de felicidade,
cultivando as flores de amor para embelezar a própria vida e a de outras
pessoas, e todo o Universo se felicita com ele.
Essa proposta dá trabalho, é certo. Ser feliz é trabalhoso, por isso a maioria das pessoas cultua a culpa e a desculpa. Um dia, porém, todos despertaremos para o mecanismo produtivo de autorrenovação, buscando, com o cultivo do amor e da felicidade, auxiliar o Universo a crescer.”
Livro:
Parábolas Terapêuticas – Vol. 2.
Autor:
Alírio Cerqueira Filho.
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