Reconciliação com o
Adversário. (Mateus
5, 25)
“Reconcilia-te
depressa com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele, para que não
aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial,
e te encerrem na prisão...” e Mateus 18, 15 – 20.
“A reconciliação com o adversário, raras vezes observada entre os seres (...),
expõe a solução mais inteligente, por preservar
o homem dos incômodos quadros, conduzidos pela lei de causa e efeito,
à senda de reparação.
Sem olvidar os reclamos do direito alheio, a reconciliação ainda significa terapêutica para
ambas as partes, por exonerar o coração do ódio e dos sentimentos de
vingança, origem das enfermidades espirituais e dos
dramas de longa duração, considerando os efeitos colaterais
atribuídos pelo ódio e pela obrigatoriedade da reparação denunciada nos
parágrafos
da divina Justiça.
A exemplo do ímã que se desfigura por envolver-se à
limalha ou à sucata de ferro a que se imanta, o ódio e a vingança igualmente
evidenciam, por vezes, enfermidades ou mutações no
corpo astral, de que o Espírito procura ocultar-se, a exemplo dos obsessores dos gadarenos que, visando
esconder possíveis deformidades, pedem a Jesus para se ocultarem entre os porcos. (Marcos 5, 1 – 13)
O divino Terapeuta, por isso, sem desprezar
os métodos curativos, determina a profilaxia recomendada
ao paralítico de
Betesda: "Olhe que já estás
curado; não tornes a pecar a fim de que não te suceda coisa pior”. (João, 5, 14).
Perdão, contudo, não
significa exoneração do resgate imposto pela celeste Justiça, considerando
os prejuízos morais, materiais ou físicos que, por seu volume ou natureza, nem
sempre são passíveis de resgate imediato e na mesma existência.
Enquanto a vingança
denota justiça em causa própria, o ódio compreende estranhos emolumentos
(lucros) ou juros de elevados índices, de que se exonera
(liberta) pelo perdão, conquanto (apesar de) a dívida a ser resgatada,
ainda que mediante compreensiva moratória ou, por vezes, mediante a “caridade,
o amor que cobre a multidão de pecados”. (I Pedro 4, 8)
Expressando perdão de faltas alheias sem resgate, a confissão exclui o processo
de reconciliação, como recomendado pelo Senhor, enquanto
institucionaliza o crime, resultando, consequentemente, em quadros
obsessivos de várias naturezas que no lar, nos consultórios ou nos
sanatórios reclamam o concurso de terapeutas, de médiuns ou de instrutores
espirituais que mobilizam expressivos recursos no encalço da reconciliação,
ainda que tardia, desatando velhos liames de ódio, origem remota dos quadros
obsessivos, ocultos ou declarados, que o orgulho, a incredulidade e a
negligência relegaram para o terreno de futuras existências.
Importa esclarecer que, se o Cristo diz ao
paralítico: "Tem bom ânimo, perdoados são os teus pecados" (MT 9, 1 - 2),
é porque compreendia resgatadas as faltas espirituais que haviam dado
origem à paralisia, assegurando o crédito
espiritual que se manifesta por fé, no processo de cura.
Ódio ou perdão constituem, respectivamente,
alicerce à enfermidade ou à saúde, à tristeza ou à alegria, hoje e amanhã, em
conformidade com as anotações que forçosamente figuram nas páginas da consciência. (...)
Se a terapêutica, para a condição do ofendido,
repousa no perdão incondicional, por constituir-se de profilaxia aos
diversos estados patológicos a que o ódio conduz, pode-se admitir o imperativo
de não figurar no quadro de ofensor, compreendendo-se o tributo que a
celeste Justiça impõe, ainda que perdoado pelo ofendido.
É tão significativo o processo de reconciliação que
Jesus assegura sua presença onde “duas ou três pessoas se
reúnem com tal propósito”. (Mateus 18, 20)
Amparado nas enganosas liturgias de perdão e
aceitando a morte física por definitiva extinção da vida, o homem despreza o direito alheio, a quem fere e
prejudica sem escrúpulo, para ser surpreendido, em futuras vidas, por
significativo carma, oriundo de pretéritas faltas
sem resgate, emblema de cadáveres insepultos,
porque é da lei que, “aos autores dos crimes, também admitidos por
"mortos”, compete reparar suas faltas, dando sepultura
a seus espectros”. (MT 8, 21-22)
Emmanuel em “Fonte Viva”,
psicografia de Francisco C. Xavier, no Cap. 143, afirma: (...) “Trânsfugas da evolução, cerram-se entre as paredes da própria mente,
cristalizados no egoísmo ou na vaidade, negando-se a partilhar a experiência comum.
Mergulham-se em sepulcros de ouro, de vício, de
amargura e ilusão. Se vitimados pela tentação da riqueza, moram em túmulos de
cifrões; se derrotados pelos hábitos perniciosos, encarceram-se em grades de
sombra; se prostrados pelo desalento, dormem no pranto da bancarrota moral, e,
se atormentados pelas mentiras com que envolvem a si mesmos, residem sob as
lápides, dificilmente permeáveis, dos enganos fatais.
Aprende a participar da luta coletiva. Sai, cada
dia, de ti mesmo, e busca sentir a dor, do vizinho, a necessidade do próximo,
as angústias de teu Irmão e ajuda quanto possas. Não te galvanizes na esfera do
próprio "eu". Desperta e vive com todos, por todos e para todos,
porque ninguém respira tão-somente para si.
Em qualquer parte do Universo, somos
usufrutuários do esforço e do sacrifício de milhões de existências. Cedamos
algo de nós mesmos, em favor dos outros, pelo muito que os outros fazem por
nós.” (...)
Por
assegurar a paz do próprio futuro, nos verbos "ligar” ou “desligar", Jesus
recomenda sejam desatados os liames do ódio, restabelecendo os laços de
harmonia advindos do perdão, por constituírem fator
imunológico às enfermidades diversas que procedem dos quadros
infelizes de erros pretéritos, arquivados no subconsciente, do qual podem
ressurgir, em futuras existências, sob diferentes formas, incluindo
manifestações depressivas ou esquizofrênicas, de espontânea origem ou por ação
dos adversários desencarnados.
Se a reconciliação, ainda que por vias de
compreensiva indenização, compreende profilaxia, pode-se assegurar que a legítima imunidade, aos quadros de enfermidades, ou às
adversidades do porvir, repousa na prática exclusiva do bem,
afastando da pauta da vida qualquer atitude que se configure por inclusão própria no quadro de ofensores.”
Livro: “O Evangelho sem Mistérios nem Véus.”
Cap. 51 - Editora: FEB.
Autor: João de Jesus Moutinho.
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