sábado, 19 de novembro de 2022

 

Reconciliação com o Adversário.  (Mateus 5, 25)

 

Reconcilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão...”  e  Mateus 18, 15 – 20.

 

A reconciliação com o adversário, raras vezes observada entre os seres (...), expõe a solução mais inteligente, por preservar o homem dos incômodos quadros, conduzidos pela lei de causa e efeito, à senda de reparação.

Sem olvidar os reclamos do direito alheio, a reconciliação ainda significa terapêutica para ambas as partes, por exonerar o coração do ódio e dos sentimentos de vingança, origem das enfermidades espirituais e dos dramas de longa duração, considerando os efeitos colaterais atribuídos pelo ódio e pela obrigatoriedade da reparação denunciada nos parágrafos da divina Justiça.

A exemplo do ímã que se desfigura por envolver-se à limalha ou à sucata de ferro a que se imanta, o ódio e a vingança igualmente evidenciam, por vezes, enfermidades ou mutações no corpo astral, de que o Espírito procura ocultar-se, a exemplo dos obsessores dos gadarenos que, visando esconder possíveis deformidades, pedem a Jesus para se ocultarem entre os porcos. (Marcos 5, 1 – 13)

O divino Terapeuta, por isso, sem desprezar os métodos curativos, determina a profilaxia recomendada ao paralítico de Betesda: "Olhe que já estás curado; não tornes a pecar a fim de que não te suceda coisa pior”. (João, 5, 14).

Perdão, contudo, não significa exoneração do resgate imposto pela celeste Justiça, considerando os prejuízos morais, materiais ou físicos que, por seu volume ou natureza, nem sempre são passíveis de resgate imediato e na mesma existência.

Enquanto a vingança denota justiça em causa própria, o ódio compreende estranhos emolumentos (lucros) ou juros de elevados índices, de que se exonera (liberta) pelo perdão, conquanto (apesar de) a dívida a ser resgatada, ainda que mediante compreensiva moratória ou, por vezes, mediante a “caridade, o amor que cobre a multidão de pecados”.                                     (I Pedro 4, 8)

Expressando perdão de faltas alheias sem resgate, a confissão exclui o processo de reconciliação, como recomendado pelo Senhor, enquanto institucionaliza o crime, resultando, consequentemente, em quadros obsessivos de várias naturezas que no lar, nos consultórios ou nos sanatórios reclamam o concurso de terapeutas, de médiuns ou de instrutores espirituais que mobilizam expressivos recursos no encalço da reconciliação, ainda que tardia, desatando velhos liames de ódio, origem remota dos quadros obsessivos, ocultos ou declarados, que o orgulho, a incredulidade e a negligência relegaram para o terreno de futuras existências.

Importa esclarecer que, se o Cristo diz ao paralítico: "Tem bom ânimo, perdoados são os teus pecados"  (MT 9, 1 - 2), é porque compreendia resgatadas as faltas espirituais que haviam dado origem à paralisia, assegurando o crédito espiritual que se manifesta por fé, no processo de cura.

Ódio ou perdão constituem, respectivamente, alicerce à enfermidade ou à saúde, à tristeza ou à alegria, hoje e amanhã, em conformidade com as anotações que forçosamente figuram nas páginas da consciência.  (...)

Se a terapêutica, para a condição do ofendido, repousa no perdão incondicional, por constituir-se de profilaxia aos diversos estados patológicos a que o ódio conduz, pode-se admitir o imperativo de não figurar no quadro de ofensor, compreendendo-se o tributo que a celeste Justiça impõe, ainda que perdoado pelo ofendido.

É tão significativo o processo de reconciliação que Jesus assegura sua presença onde “duas ou três pessoas se reúnem com tal propósito”.  (Mateus 18, 20)

Amparado nas enganosas liturgias de perdão e aceitando a morte física por definitiva extinção da vida, o homem despreza o direito alheio, a quem fere e prejudica sem escrúpulo, para ser surpreendido, em futuras vidas, por significativo carma, oriundo de pretéritas faltas sem resgate, emblema de cadáveres insepultos, porque é da lei que, “aos autores dos crimes, também admitidos por "mortos”, compete reparar suas faltas, dando sepultura a seus espectros”. (MT 8, 21-22)  

                                                                                          Emmanuel em “Fonte Viva”, psicografia de Francisco C. Xavier, no Cap. 143, afirma: (...) Trânsfugas da evolução, cerram-se entre as paredes da própria mente, cristalizados no egoísmo ou na vaidade, negando-se a partilhar a experiência comum.

Mergulham-se em sepulcros de ouro, de vício, de amargura e ilusão. Se vitimados pela tentação da riqueza, moram em túmulos de cifrões; se derrotados pelos hábitos perniciosos, encarceram-se em grades de sombra; se prostrados pelo desalento, dormem no pranto da bancarrota moral, e, se atormentados pelas mentiras com que envolvem a si mesmos, residem sob as lápides, dificilmente permeáveis, dos enganos fatais.

Aprende a participar da luta coletiva. Sai, cada dia, de ti mesmo, e busca sentir a dor, do vizinho, a necessidade do próximo, as angústias de teu Irmão e ajuda quanto possas. Não te galvanizes na esfera do próprio "eu". Desperta e vive com todos, por todos e para todos, porque ninguém respira tão-somente para si.

Em qualquer parte do Universo, somos usufrutuários do esforço e do sacrifício de milhões de existências. Cedamos algo de nós mesmos, em favor dos outros, pelo muito que os outros fazem por nós.”  (...)


Por assegurar a paz do próprio futuro, nos verbos "ligar” ou “desligar", Jesus recomenda sejam desatados os liames do ódio, restabelecendo os laços de harmonia advindos do perdão, por constituírem fator imunológico às enfermidades diversas que procedem dos quadros infelizes de erros pretéritos, arquivados no subconsciente, do qual podem ressurgir, em futuras existências, sob diferentes formas, incluindo manifestações depressivas ou esquizofrênicas, de espontânea origem ou por ação dos adversários desencarnados.

Se a reconciliação, ainda que por vias de compreensiva indenização, compreende profilaxia, pode-se assegurar que a legítima imunidade, aos quadros de enfermidades, ou às adversidades do porvir, repousa na prática exclusiva do bem, afastando da pauta da vida qualquer atitude que se configure por inclusão própria no quadro de ofensores.”

 

Livro: “O Evangelho sem Mistérios nem Véus.”

Cap. 51 - Editora: FEB.

Autor: João de Jesus Moutinho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  “Bem-Aventurados os Pobres Pelo Espírito!”   (Mateus 5, 3)      “ Poucas palavras do Evangelho sofreram, através dos séculos, tão grande...