terça-feira, 12 de agosto de 2025

 "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos". (Mateus 5, 6).

“Esta Bem-Aventurança, quando analisada superficialmente, expressa, à primeira vista, um sentido de apreensão, em que a alma anseia que seus direitos, usurpados por terceiros, sejam-lhe restituídos. Ter fome e sede de justiça, do ponto de vista terreno, é aguardar a resposta da justiça humana, em face de determinada ação injusta de seu adversário. Saliente-se, todavia, que a justiça terrena será também sempre relativa ao estágio de maturidade da Humanidade. As leis são elaborações humanas, tendo como base, convenções e padrões estabelecidos pela sociedade, em constante transformação, com o objetivo de proporcionar segurança e bem-estar aos seus cidadãos. Assim, aquele que se sente ofendido grita por justiça, deseja punição, quer ver a condenação do ofensor.

Outras vezes, quando a justiça humana falha, a criatura transfere esta fome e sede de justiça para Deus, confiante de que Ele fará o julgamento, agora, nesta existência, ou depois da morte. No fundo, quem espera a aplicação da justiça de Deus está querendo que o outro seja punido. As pessoas querem um modelo de justiça divina que seja semelhante a sua forma de exercê-la; imaginam que há uma ira celestial semelhante à dos homens, e, aqueles que conseguem safar-se das malhas desta, serão julgados por aquela, da qual não escapará jamais. E confortam-se com essa ideia de justiça. É comum ouvir, diante de ações consideradas injustas: "Do castigo de Deus ele não escapa!"; "vai receber a punição que merece!"...; "Deus tarda, mas não falha!"... Quando se percebe que algo ruim está acontecendo ao infrator, que escapou das penas da lei humana, interpreta-se que Deus já está encaminhando o sofrimento merecido; diante de tragédias ambientais inexplicáveis (tsunamis, enchentes, furacões, etc;) com a morte em massa de seres humanos, vem a célebre pergunta: "Onde estava Deus naquela hora, para permitir tamanho sofrimento?"

Sob esta ótica - a da justiça terrena - aquele que tem fome e sede de justiça aguarda, primeiro, que o julgamento seja feito pela justiça humana; na omissão ou falha desta, no geral, acredita-se que Deus se encarregará da punição ao infrator, ainda aqui nesta existência na Terra, ou então, após a morte. O local e a forma de punição são estabelecidos pelos homens, como se fossem Leis divinas. No dizer de José Aparecido Sanches - o nosso Zezinho - de nosso Grupo de Estudos: "Tem-se a ousadia de legislar para Deus". E neste sentido, têm sido criadas as mais fantasiosas situações sobre Deus e as pretensas punições. (...) E tudo fica como se Deus é que fosse o autor. Essa é a ideia, mais ou menos cristalizada na mente da maioria das pessoas, pela formatação imposta milenarmente pelas crenças religiosas.

Láo-Tsé ensina: "Cumpre teu dever e esquece teus direitos. Quem se guia pela voz da consciência só atende à voz do dever e não insiste em seus direitos. Os poderes eternos não têm favoritos, mas favorece sempre aos bons. Em síntese:  o direito é sinônimo de egoísmo - o dever é sinônimo de amor. O sumo direito é a suma injustiça. A sociedade humana é regida pelo direito - mas a consciência obedece à Justiça". (Láo-Tsé. Tao Te Ching, Tradução comentada de Huberto Rohden, cap.79)

Na verdade, o julgamento acontecerá sempre, mesmo quando a punição é exarada (lavrada; determinada) pela justiça, ou, então, diante da pretensão (ideia) de que Deus o fará. O julgamento se dá pela própria criatura, no momento em que o ato praticado for despertado pela consciência. Nela está escrita a Lei de Deus. (O Livro dos Espíritos, Item 621) Neste entendimento, devemos ser inteiros na condição de fragmento. Isto quer dizer, fazemos o máximo que podemos no limite de nossas forças, no estágio evolutivo que nos encontramos; enfim ser inteiro dentro das possibilidades, sem omissão naquilo que podemos fazer. Quando se comete um delito, a criatura é acordada da ilicitude, no momento em que o martelar da consciência, assim o acusar.

Enquanto isto não acontecer, pode até ser punido pela justiça humana, e continuar ainda sem o julgamento da consciência, se esta, nada denunciar. Somos os nossos próprios julgadores. Assim é que se pode passar a existência inteira, sem que a consciência emita qualquer julgamento. Não somos julgados de nada. Quando, porém, a criatura é acordada pelo ilícito praticado, instaura-se um processo contra ela, nos refolhos da alma. O arrependimento é o início da mudança. Desencadeiam-se na alma a fome e sede de justiça, o que só será normalizado mediante a correção do ato. Daí dizer-se que eles serão saciados ou fartos, tudo, porém, de acordo com o grau evolutivo alcançado.” (Ver nosso livro, Código penal dos Espíritos - a Justiça do Tribunal da Consciência, pela editora EME.) (...)


Livro: "O Segredo das Bem Aventuranças.

Cap. 1.4 – “Os que têm fome e sede de Justiça.”

Autor: José Lázaro Boberg.

Láo

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