sábado, 19 de novembro de 2022

 Lei do Trabalho.

“Vamos ler as questões 674 e 675 de “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec.

Mais adiante, na primeira frase da resposta dos Espíritos, na questão 677, os Espíritos Superiores acrescentam: “tudo na Natureza trabalha”.

Quando se fala em trabalho, normalmente se pensa em dinheiro. Inconscientemente as pessoas associam trabalho apenas com trabalho profissional. Na verdade, trabalho está ligado à ideia de ação, de atividade. As pessoas mais saudáveis, do ponto de vista emocional, são aquelas que mais produzem. O ocioso nunca lega algo de útil para a humanidade.

Eu costumo brincar, dizendo: “- Quando você precisar de alguém para fazer algo importante, nunca procure quem tenha muito tempo sobrando, procure alguém ocupado, que não tenha tempo.” O desocupado já é desocupado por dificuldades relacionadas com a sua capacidade produtiva e, por isso, nunca dispõe de tempo; o ocupado, normalmente, tem recursos internos que lhe dão a capacidade de administrar suas ocupações.

O tempo é prioridade. Quando não estamos dispostos a fazer alguma coisa, dizemos que não temos tempo. Quando algo nos interessa, o tempo aparece. Quando a pessoa consegue ver vantagem em algo para si, ela encontra tempo.

Na verdade, nada está completamente parado no Universo. Mesmo nos objetos aparentemente imóveis, em sua substância, encontram-se milhões de átomos em intensa aceleração.

O que pára, estraga; quem estagna, adoece. (...)

À noite, enquanto nosso corpo físico dorme, também não estamos sem fazer nada. Saímos do corpo físico e continuamos vivendo nossa vida espiritual, conforme nossas preferências. Uns trabalhando para o bem, outros trabalhando para o mal.

O trabalho é lei da natureza, portanto é lei também para a saúde mental.

Um dos sinais de doença mental é exatamente a inatividade da pessoa. Quem está doente não encontra recursos (forças) para fazer alguma coisa. Centraliza-se em torno do seu problema. Esse é um tormento muito grande para a própria pessoa.

É comum quem está de fora não entender isso. Pensa-se que bastaria orientar à pessoa para ela fazer alguma coisa, e então o problema estaria resolvido. Muita gente pensa que apenas mandando alguém trabalhar, conseguirá com isso a cura de dificuldades. Quando alguém está com depressão, ouve-se muito isso:

“- Levante daí, vá trabalhar que essa depressão é falta do que fazer!”  Não é tão simples assim. Quem já teve depressão sabe que o problema não é “não querer levantar da cama, e sim não conseguir encontrar forças para levantar da cama.  Importante não reduzir a problemática da saúde mental a meramente uma questão de atividade e trabalho. Ainda que, para todo aquele que queira recuperar-se mais rapidamente, seja preciso esforçar-se no sentido de preencher o seu tempo com alguma atividade útil, dentro das suas possibilidades. Ocupar as mãos é uma boa medida. Mãos ocupadas indicam, na maior parte das vezes, mente ocupada

“Toda ocupação útil é trabalho” (O Livro dos Espíritos: questão 675).

A noção de utilidade deve começar primeiramente para quem executa o trabalho. Se a pessoa não tem a dimensão do que está fazendo, se ela opera de modo mecânico e não tem satisfação com sua atividade, mesmo que produza resultados úteis para outras pessoas, esse trabalho não tem o significado que deveria.

É comum, principalmente nos dias de hoje, o indivíduo fazer algo de que não gosta, meramente para ganhar um salário ao final do mês. Muitas vezes trabalha de modo monótono e empobrecedor, vivenciando o trabalho como algo ruim. (...)

Portanto, o trabalho precisa estar a serviço do crescimento do indivíduo em toda a sua totalidade, não apenas como um meio de sustento para a sua sobrevivência.

Importante fazer o que se gosta; mais importante ainda é gostar do que se faz.

Muita gente se queixa do trabalho que tem, como se estivesse sempre desfavorecido pela sorte...

- “A vida não é justa comigo... se eu tivesse outro emprego! Se eu ganhasse melhor...!”

Para realizar-se, a pessoa precisa em primeiro lugar querer o que tem, para somente depois ter o que quer.

É necessária uma cota de sacrifício para haver crescimento. No trabalho não é diferente.

Há uma tendência no mundo moderno das pessoas iludirem-se pensando que é possível trabalhar somente tendo prazer. Criou-se a fantasia de que se pode viver sem uma parcela de esforço e renúncia. De tal forma isso é importante que diante de pequenos dissabores, invariavelmente as pessoas desistem de seus empreendimentos, não esperam o tempo suficiente para alcançarem resultados e se tornam infelizes com muita rapidez. É uma época de muita intolerância a frustrações, como se obstáculos e dificuldades fossem doenças.

Por melhor que seja a atividade que a pessoa exerça, chegará um dia que ela terá cansaço e preguiça de ter que acordar todos os dias no mesmo horário. Virá inevitavelmente a rotina e as coisas parecerão sem tanta graça. Isso não significa que o indivíduo tenha que trocar de emprego ou de atividade, e sim que ele tem de renovar a atitude diante do que faz. Isso vale para as relações afetivas também, principalmente no casamento.

Trabalhar, envolver-se numa ocupação comum, deve estar acompanhado de um trabalho interior constante. Caso isso não seja feito, rapidamente a atividade perderá o valor. Esse trabalho interior diz respeito a pessoa dar-se conta, de forma regular, de tudo o que já tem na sua vida. O que já alcançou, o que a Vida já lhe deu. Poder comparar suas condições no passado, como vivia, o que possuía, e o que tem no presente.

É muito comum o ser humano ficar insatisfeito rapidamente e esquecer o quanto desejou ter um emprego, por exemplo. Enquanto está desempregado aceita qualquer trabalho, mas quando consegue algum, em pouco tempo passa a julgá-lo ruim e a sentir-se infeliz novamente.

Trabalhar-se interiormente para ser reconhecido com o que possui em sua vida é uma qualidade imprescindível para a saúde mental de qualquer pessoa. Caso ela não exercite essa habilidade interior, dificilmente terá satisfação em sua vida.(...)

Enquanto trabalha a pessoa está se elevando. (...) O progresso vem na continuidade. Quem permanece focado na sua atividade e persiste em seus objetivos, alcança progressos psicológicos que o fazem ser uma pessoa diferente do que era antes, uma vez que se desenvolvem, interiormente, aptidões novas. Isso significa dizer que a perseverança é uma virtude indispensável. Sem ela, nada se alcança. O erro de muitos é querer alcançar objetivos sem a necessária persistência de propósitos.

Limite do Trabalho - O Repouso.

Vamos ler a questão 682, de “O Livro dos Espíritos”.

(...) “O trabalho sem repouso torna-se um vício. Da mesma forma que, com qualquer outro vício, a pessoa fica dependente do trabalho, não consegue viver sem ele, faz abstinência quando não está trabalhando, tornando-se irritadiça, mal humorada e uma péssima companhia para os outros. Por trás de uma pessoa desmedidamente ambiciosa, existe, frequentemente, uma pessoa viciada em ter que fazer coisas, que se sente extremamente infeliz e ocupa seu tempo apenas com trabalho, como que para preencher um vazio interior.

Existe um preconceito social no que diz respeito a não estar fazendo nada. Se encontramos alguém trabalhando, julgamos imediatamente essa pessoa de forma positiva. Se encontramos alguém que não esteja trabalhando, julgamos que seria bom que ela arranjasse alguma coisa para fazer.

É assim que criamos a ideia de que o ideal seria a pessoa estar sempre ocupada. Há pessoas que não suportam sequer ver os outros descansando. (...)

Podemos reconhecer o grau de saúde mental de uma pessoa pela capacidade que ela tem de aproveitar prazerosamente os seus finais de semana, por exemplo. Isso não é uma regra geral, mas invariavelmente as pessoas mais saudáveis, do ponto de vista psicológico, levam uma vida mais criativa e, portanto, descobrem alternativas variadas para aproveitarem os seus momentos de repouso e lazer.  (...)

Alguns transtornos emocionais estão relacionados com a dificuldade de repousar a mente. (...)

Repousar não é apenas dormir. Muitas vezes repousar é trocar de atividade. (...) Há pessoas que depois de um dia de trabalho, onde ficaram ocupadas mentalmente a maior parte do tempo, chegam em casa e, sentindo cansaço, julgam que precisam de repouso. E para descansar, sentam-se na frente de um computador, ou deitam-se frente à televisão e continuam com uma atividade predominantemente mental. Daí não descansarem. Melhor seria uma caminhada, ou outra atividade física qualquer. Na troca do tipo de atividade, o repouso.

E a Arte? Em que momento ela se faz presente no meu dia? Arte é uma forma de oxigênio. Respiramos melhor com a alma, se na vida tivermos música, poesia, pintura, dança...

Repousar não significa ficar inerte. Da mesma forma, a meditação e a prece. São atividades para o espírito.

Parar algumas vezes ao dia, olhar para dentro de si e conectar-se com as dimensões superiores da vida é passo importante na aquisição do equilíbrio emocional e espiritual.

Tudo na vida exige equilíbrio. Lei do Trabalho coexiste com a necessidade do repouso. (...)

 

Livro: “Leis Morais e Saúde Mental” – Cap. 3.

Autor: Sérgio Luis da Silva Lopes.

Editora: Fergs.

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