“Vista de
Conjunto dos Argumentos que Militam em Favor da Reencarnação.”
(...)
“Em obra precedente, "A Evolução Anímica”, procurei indicar como se
podia conceber o desenvolvimento progressivo do princípio espiritual, e mostrei
que, colocando-se a causa da evolução nos
esforços empregados pelo princípio inteligente, para libertar-se progressivamente
dos laços da matéria, explicam-se melhor os fatos do que pela teoria
materialista dos fatores únicos da hereditariedade e do meio.
O
progresso físico e intelectual provém de esforços incessantes, reiterados, de
melhoramentos quase imperceptíveis, a cada passagem, mas cujo termo está na
Humanidade, que resume e sintetiza essa grande ascensão.
O
ser, chegado a um grau qualquer da escala vital, não pode mais retrogradar,
simplesmente porque não encontraria mais, em razão
do seu estado evolutivo, as condições necessárias para encarnar nas formas
inferiores, que já ultrapassara. (...)
Tudo
evoluciona, tanto as nações como os indivíduos, assim os mundos como as
nebulosas. Tudo parte do simples para chegar ao composto; da
homogeneidade primitiva vai-se à prodigiosa complexidade da Natureza atual,
realizada por leis que só pedem tempo para produzir
todos os seus efeitos. (...)
Vimos
que, nos vertebrados superiores e mais particularmente entre os animais
domésticos, a inteligência adquiriu grande desenvolvimento para compreender a
linguagem humana, para formular raciocínios, para resolver certos problemas.
É
evidente que se encontra, ainda, num grau inferior de mentalidade, mas que é da
mesma natureza que a nossa. (...)
A
Reencarnação Humana e a Memória Integral
Para
chegarmos à verificação experimental da realidade das vidas sucessivas e para
explicar por que não se conservam as lembranças das existências anteriores, é
preciso estudar sumariamente as diferentes modalidades da memória.
Se
a alma é individualizada em uma substância,
que a acompanha durante todo o tempo de sua evolução; se esse corpo espiritual
é o guardião indefectível de todas as aquisições anteriores, estamos no direito
de perguntar por que, a cada volta, aqui, não temos conhecimento do passado?
Para
compreender o olvido das vidas anteriores seria indispensável mostrar que,
mesmo em nossa atual existência, produzem-se profundas lacunas relativamente a
uma multidão de incidentes que nos sucedem, e, por vezes, períodos inteiros
apagam-se de nossa lembrança. Não será, portanto, extraordinário que o mesmo se
dê com tudo o que precede a vida atual, pois que o perispírito
experimenta profundas modificações íntimas, ao reaparecer na Terra.
Estabelece-se, de cada vez, um novo equilíbrio, que modifica, necessariamente,
o estado da memória. (...)”
Conclusão.
(...)
“O estudo das comunicações espíritas provou-nos, de maneira irrefutável, que a situação da alma, depois da morte, é regida por uma lei
de justiça infalível, segundo a qual os seres se encontram em condições
de existência, que são rigorosamente determinadas por seu
grau evolutivo e pelos esforços que faz para melhorar.
Nossas
relações com o Além ensinaram-nos, ainda, que não existe inferno, nem paraíso,
mas que a lei moral impõe sanções
inelutáveis (contra o que é impossível lutar) àqueles que a violaram,
enquanto reserva a felicidade aos que se esforçaram por praticar o bem, sob
todas as formas. (...)
Se
as almas devem passar por todas as situações sociais e por todas as condições
físicas para desenvolver-se moral e intelectualmente, as desigualdades de toda
a natureza, que se verificam entre os seres, compensam-se na série das vidas
sucessivas. Cada qual, há seu tempo, ocupará todos os degraus da escala social,
o que cria uma perfeita igualdade nas condições do desenvolvimento dos seres;
em virtude da lei de justiça, todos se encontram na condição social que melhor
convém ao seu progresso individual, porque todo renascimento é condicionado
pelas consequências das vidas anteriores.
Toda
falta acarreta efeitos inelutáveis; (...)
O
Progresso
O
mal já não é uma fatalidade inelutável de que não nos poderíamos libertar; ele
aparece como um aguilhão, como uma necessidade destinada a compelir o homem
para a estrada do progresso. Apesar dos sofismas dos retóricos, o progresso não é uma utopia. (...)
Consequências
Morais
As
vidas sucessivas têm por objeto o desenvolvimento da inteligência, do
caráter, das faculdades, dos bons instintos, e a supressão dos maus.
Sendo
contínua a evolução e perpétua a criação,
cada um de nós, no correr das existências, é, a todo o instante, feitura de
si mesmo. (...)
Partindo todos do mesmo ponto, para
chegar ao mesmo fim, que é o aperfeiçoamento
do ser, existe, realmente, uma perfeita igualdade entre todos os indivíduos.
Essa
comunhão de origem mostra-nos claramente que a fraternidade não é uma palavra
vã. Em todos os degraus do desenvolvimento, sentimo-nos ligados uns aos outros,
de sorte que não existe diferença radical entre os povos,
a despeito da cor da pele ou do grau de adiantamento. A evolução não é
somente individual, é coletiva. As nações se reencarnam por grupos, de sorte que
existe uma responsabilidade coletiva como existe a individual; daí resulta que,
qualquer que seja nossa posição na sociedade, temos interesse em melhorá-la, porque
é o nosso futuro que preparamos.
O
egoísmo é, ao mesmo tempo, um vício e um mau cálculo, porque a melhoria geral só pode resultar do progresso individual
de cada um dos membros que constituem a Sociedade. Quando estas grandes
verdades forem bem compreendidas, encontrar-se-á menos dureza entre os que
possuem, e menos ódio e inveja nas classes inferiores.
Se
os que detêm a riqueza ficarem persuadidos de que, na próxima encarnação,
poderiam surgir nas classes indigentes, teriam evidente interesse em melhorar
as condições sociais dos trabalhadores; reciprocamente, estes aceitariam com
resignação a sua situação momentânea, sabendo que, mais tarde, poderiam estar,
por sua vez, entre os privilegiados.
A
Palingenesia é pois uma doutrina essencialmente renovadora, é um fator
de energia, visto que estimula em nós a vontade, sem a qual nenhum progresso
individual ou geral poderia realizar-se.
A
solidariedade impõe-se a nós como uma condição
essencial do progresso social; é uma lei da Natureza, que já podemos
verificar nas sociedades animais, constituídas para resistir à lei brutal da
luta pela vida.
O
mal não é uma necessidade fatal imposta à Humanidade.
Em
resumo, a teoria das vidas sucessivas satisfaz todas a aspirações de nossas
almas, que exigem uma explicação lógica do problema do destino. Ela concilia-se,
perfeitamente, com a ideia duma providência, ao mesmo tempo justa e boa, que
não pune nossas faltas com suplícios eternos, mas que nos deixa, a cada
instante, o poder de reparar nossos erros, elevando-nos,
lentamente, por nossos próprios esforços, subindo os degraus dessa “escada
de Jacob”, onde os primeiros mergulham na animalidade e os últimos chegam a mais
perfeita espiritualidade. (...)”
Livro:
“A Reencarnação” – Autor: Gabriel Delanne.