sábado, 22 de outubro de 2022

 Muitos Chamados (extrato)

                             (Mateus 22, 1 – 14 – Parábola da Festa das Bodas)


Mesmo hoje é assim ...

Atônitas, as multidões procuram a diretriz do Reino dos Céus; não obstante, engalfinham-se nas hórridas lutas pela posse da Terra.

Fascinam-se com as narrativas evangélicas e comovem-se ante os padecimentos do Senhor quando leem a Sua vida; todavia não se resolvem seguir em definitivo os roteiros iluminativos, por meio dos quais os valores humanos mudam de expressão.

Examinando, igualmente, o comportamento de muitos companheiros de lides, verificarás que a parábola expressiva do Senhor mantém-se em plena atualidade para eles também.

Depois de experimentarem o contato com as legitimidades do espírito, sentem-se dominados pelo desejo sincero de espraiarem as certezas que a Boa Nova lhes oferece. Entretanto, aos primeiros impedimentos e problemas, perfeitamente consentâneos (adequados) com a posição evolutiva que os caracteriza, reagem, dizendo-se descrentes, atormentam-se e debandam.

Acreditam que são credores de especiais concessões, tendo em vista haverem recebido o convite para o banquete na corte do Grande Rei e o terem aceito com demonstrações de vivo entusiasmo...

Não lhes acode, porém, ao discernimento, que para qualquer solenidade se faz indispensável compostura própria, traje adequado. (...)

Por isso, as multidões esfaimadas de amor e sabedoria ainda não se resolveram fartar-se nos celeiros sublimes da Revelação Espírita ora ao alcance de todos, demorando-se em contínua aflição.

Buscando os tesouros do espírito, disputam, aguerridamente, as posses que os “ladrões roubam, as traças roem e a ferrugem gasta...”

Já que recebeste o chamado para a transformação moral ao alento da luz espírita que te aclara os dédalos (labirintos) do mundo interior, não titubeies. Estuga (acelera) o passo na senda habitual e reflete, deixando-te permear (transpassar) pelas lições de esperança e renovação com que te armarás para os combates ásperos contra os severos adversários que a quase todos vencem: o egoísmo, o orgulho, a ira, o ciúme e seus sequazes, ensinando pelo exemplo fraternidade e amor. (...)

Recorda-te de Jesus que não veio para compactuar com as comezinhas paixões nem tão pouco para agradar os campeões da insensatez — maneira segura de conseguir simpatizantes e adeptos — antes para inaugurar o principado da felicidade ao qual são “muitos chamados, porém poucos escolhidos” (Mateus 22, 14).

 

Livro: Leis Morais da Vida – Cap. 4.


Psicografia: Divaldo Pereira Franco.

Espírito: Joanna de Ângelis.

 

Neurose e Vidas Passadas. (extrato)

“Na multiplicidade das reações que o ser humano apresenta, as de origem psíquica são bastante complexas, pelas correlações com as vivências pretéritas; isto é, reações que se mostram, principalmente em face das atitudes do passado, onde outras personalidades (reencarnações) fizeram parte da estrutura de determinada vivência.

Bem claro que todas essas reações são bem apropriadas a cada ser, considerando-se, ainda, a intensidade com que as mesmas forem desencadeadas. São tão vivas certas demarcações, que elas são transplantadas para outras vidas, a fim de que o processo seja absorvido integralmente. Nas estruturações desarmônicas as experiências das reações, geralmente dolorosas, funcionam como mecanismo burilador das fontes espirituais em desalinho. Nos casos positivos, onde virtudes foram o palco dos fatos, o acréscimo nas raízes do Espírito é como que imediato. Em qualquer das posições, reações negativas ou positivas, os resultados experienciais serão sempre benéficos ao plano evolutivo, com as naturais variações de tempo que cada ser em particular deve responder.

E bem mais comum do que parece, e merecedor de anotações, que certos tipos de reações psíquicas, de caráter doentio, despontam em indivíduos cujas atitudes de vivências não mostram imediatas correlações com os sintomas; estes, muitas vezes, insidiosos e aflitivos. Isto porque a correlação está quase sempre ligada a fatos pregressos, ou mesmo pequenos fatos do presente que não encontram respaldo explicativo com a intensidade dos sintomas desencadeados. Ocorre que os pequenos fatos do presente são, sem sombras de dúvidas, mecanismos despertadores das reações pregressas. É por isso que tanto a Psicologia, quanto a Psiquiatria, encontram imensas dificuldades de avaliação diante de certas e determinadas posições psíquicas.

No caso específico da Psiquiatria, gostaríamos de lembrar dois tipos de sintomas que se enquadram nessa assertiva, neuroses e vidas passadas - as reações histéricas e fóbicas.

Os sintomas histéricos e fóbicos, assim, representariam autênticas sinalizações da zona espiritual, na tela psíquica física (zona consciente), como expressão de algo que não pode ser retido.

O afloramento de sintomas histéricos, fóbicos ou associados quase sempre se apresentam complexos e tão complicados que os fundadores da psicologia profunda organizaram métodos avaliativos, alargando o campo do psiquismo, criando modelos variáveis: a Psicanálise, método psicanalítico e outros, sendo que, hoje, perante visão mais criteriosa, estão presentes nos modelos transpessoais.

Os sintomas histéricos têm-se mostrado sob forma de amnésias (perda temporária de memória), paralisias, zonas anestésicas pelo corpo, espasmos, contraturas musculares, estados crepusculares, até mesmo sob forma de crises catalépticas (rigidez muscular, dando a impressão de morte aparente). Na área sensorial registram-se, habitualmente, surdez, afonia, distúrbios da palavra e da visão. Os sintomas podem alcançar a área sexual com hiperativação da função ou mesmo redução, mostrando frigidez sexual. Devido aos desvios na área sexual, muitos pacientes mostram certo grau de erotização das relações interpessoais.

Toda essa múltipla sintomatologia sofre constantes oscilações, como que sem fixação das respostas psicogênicas (sintomas). Seu despertar na zona física convencionou-se denominar de conversão histérica. Em linguagem psicanalítica diz-se que os sintomas histéricos possuem um sentido oculto, cuja mensagem foi censurada na tela consciente por ser componente indesejável. Preferimos dizer que a tela consciente, pelos seus limites, concentra o processo vindo da zona espiritual e o faz exteriorizar sob forma de sintomas (geralmente dores psicológicas - neuroses), a fim de colher, nessas difíceis vivências, o equilíbrio interno e respectiva impulsão evolutiva do ser.

(...) Os sintomas fóbicos mostram nos pacientes, como ponto culminante, o pânico incontrolável diante de certos fatos do cotidiano. Não deve ser encarado como fobia certos temores, como chuva acentuada, tempestades magnéticas, medo de altura etc., são reações, variáveis de indivíduo a indivíduo, com tendência a serem suplantadas.

A fobia desencadeia-se diante de determinado objeto ou fato, tendo o paciente, quase sempre, a solução no evitar o encontro. Isto difere de obsessão espiritual, que se caracteriza pelo assédio da ideia, tentando destruir as defesas psicológicas do raciocínio.

A fobia mostra-se, também, em formas bastante complexas pelas variações individuais. Entretanto, podemos anotar várias condições de fobia situacional: agarofobia (fobia dos espaços abertos); a claustrofobia (aversão aos espaços fechados); eritrofobia (medo de enrubescer em público - ter de fazer um discurso); fobia de animais; fobia do vazio; fobias dos adolescentes etc.

As reações fóbicas de pequena intensidade podem, com a tácita aceitação do processo, principalmente nos adultos, transformar-se em neurose de difícil remoção. Daí a necessidade de luta, com forte dose de vontade por parte daquele que consigo carrega estas explosões anímicas, a fim de evitar a fixação de um processo obsessivo (auto-obsessão).  (...)

Pelo visto, tanto os sintomas histéricos quanto os fóbicos mostram-se em graus variáveis, definindo reações neuróticas onde a participação da zona espiritual é inconteste (que não se pode contestar ou duvidar). A maioria dessas neuroses somente encontra explicação como reações desencadeadas em conjunturas pretéritas.  (...)

O tratamento deve ser instituído com as possibilidades dos modelos existentes em vigor. Entretanto, salientamos a importância de também procurar-se neutralizar esses focos sombrios do Espírito com novas realizações e trabalhos produtivos, a fim de que os espaços provocados pelo processo catártico (desague das energias doentes) possam ser ocupados positivamente. Com isso, haverá equilíbrio entre Espírito e matéria, entre centro e periferia, entre meio interno e externo. E neste equilíbrio - entrechoque biológico entre ser encarnado e meio ambiente - que a evolução se afirma e avança, e o ser, com a sua imortalidade, vai sendo impulsionado para o Infinito sem fim na busca de constantes criações.”

 

Livro: Busca do Campo Espiritual pela Ciência.

Autor: Jorge Andréa.

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

 CAMPOS DESESTRUTURADOS NO ESPÍRITO (extrato)

Os nossos lastros espirituais estão constituídos de experienciações das muitas personalidades vivenciadas. Crescemos às custas das vivências; elaboramos e ampliamos nossos campos mentais com o constante trabalho que se reflete em conhecimento. Todo ato que desencadeia um fato com seus respectivos componentes afetivos, desenvolvidos nas estruturas da zona consciente ou psiquismo de superfície, será absorvido em condições especiais de participação das dimensões específicas do Espírito ou psiquismo de profundidade. Quando as vivências são harmônicas, haverá sempre ampliação de conhecimentos e consequente alargamento de nossas aptidões.

Todo fato vivenciado, seja de teor positivo ou negativo, fará sempre parte dos campos estruturais do Espírito. Como o impulso evolutivo é sempre caminho para a felicidade e perfeição, todo fato ou atitude que se mostre em posições desarmônicas terá de sofrer o respectivo processo de equilíbrio através de reações-respostas para a devida reposição positiva. É a resposta, geralmente dolorosa, o remédio da reposição positiva; é como se fora o bem desmantelando o mal; é a luz eliminando a sombra.

Qualquer que seja o teor de negatividade desenvolvido por determinado ser, com os limites de seu próprio livre-arbítrio, haverá sempre a resposta em vivências difíceis e geralmente caldeadas na dor. Esta, na fase evolutiva em que nos encontramos, ainda é a vacinação eficiente para neutralização de nossas sombras espirituais, refletidas nas diversas doenças de nosso panorama planetário. A existência de dor traduziria reação que, após esgotamento, permitiria a retomada do processo positivo onde novos impulsos criativos seriam observados.

As reações negativas, aquelas que mais causticam o ser que se desequilibrou, encontram-se sediadas no psiquismo, cujos reflexos nas estruturas da zona consciente (tecido nervoso) são severos e muitas vezes duradouros. São as reações da patologia mental ainda tão pouco decifrada pela nossa ciência, em virtude das pesquisas se dirigirem, preferentemente, à zona material. Buscam os pesquisadores no neurônio - a grande usina da psique — as distonias, cujas origens se assentam nos arcanos do psiquismo. Os neurônios ou células nervosas são a tela por onde as deficiências se escoam, causando desequilíbrios metabólicos de variada ordem.

Uma das mais severas desordens de natureza mental encontra-se no tão debatido terreno das psicoses, onde a esquizofrenia responde em alta percentagem.

O conceito antigo de esquizofrenia definida como mente dividida, deve ser substituído por mente desintegrada, "estilhaçada", onde as funções do perceber, sentir e pensar estão profundamente comprometidas. A denominação “dividida" dá-nos ideia de um processo que se torna definitivo, o que não é verdade. Os sintomas esquizofrênicos podem regredir e oferecer ao paciente vida regular, embora pequenas sequelas se instalem com frequência.

A esquizofrenia não deve ser considerada como uma doença isolada, mas, sim, um conjunto ou grupo complexo de doenças, atingindo funções vitais do psiquismo. A totalidade psíquica será sempre o resultado do apoio e impulso do espírito (zona inconsciente) na matéria (zona consciente). Dessa forma, podemos considerar a esquizofrenia como resultado de autêntica doença da alma, adquirida, principalmente, nas distorções das vivências pretéritas.  (...)

(...) o processo reencarnatório, onde as leis da vida, sem privilégios de qualquer natureza, impõem o processo corretivo de equilíbrio psíquico. A imortalidade e o processo constante e renovador da reencarnação representam as únicas condições plausíveis de explicação para as desordens, de toda ordem, da natureza humana. É no rosário reencarnatório que o espírito, através de incontáveis corpos físicos (personalidades), irá burilando, nas imensas experiências, as suas aptidões, ao lado do acréscimo constante de seus lastros (evolução). Estes estarão sempre buscando a harmonia e a perfeição. As doenças e desequilíbrios imensos vividos pela humanidade são, em última análise, os mecanismos liberatórios de quem necessita aperfeiçoar-se e tornar-se experiente.  (...)

Muito ainda teremos que percorrer, buscando os horizontes imensos da equação espírito-matéria. As razões espirituais encontram-se na ordem do dia, entretanto aguardando uma melhor manipulação científica. Os métodos científicos ainda estão oscilantes e sem alicerces precisos; os dias futuros, com adequados estudos e conhecimento do campo espiritual, oferecerão melhores condições de equacionamento dos problemas da mente em desalinho.”

 

Livro: “Em Busca do Campo Espiritual pela Ciência”.

Autor: Jorge Andréa.

 

PERISPÍRITO OU PSICOSSOMA (extrato)

“Os modelos organizadores biológicos representam a consequência lógica na explicação das formas. Todos os seres alcançam uma determinada e precisa morfologia. Os animais constituídos de unidades semelhantes e afins — células e tecidos - alcançam as posições que lhes competem por obediência a específica modelagem de um campo-organizador que consigo carregam. Todo ser tem o seu próprio campo-orientador de energias especiais. Este campo não seria propriamente o Espírito ou zona do Inconsciente, mas uma região intermediária, o campo que coligaria os dois elementos - matéria e espírito - conhecido como perispírito, termo criado, com muita propriedade, por Allan Kardec, embora esta zona já fosse conhecida de filósofos e pesquisadores, que lhe deram nomes variados (corpo astral, corpo fluídico, corpo aéreo, duplo, etc). (...) Conforme informação do autor espiritual André Luiz (Evolução em Dois Mundos – 1ª Parte, Cap. 2 – “Corpo Espiritual”), o perispírito é "formação sutil, urdida em recursos dinâmicos, extremamente porosa e plástica, em cuja tessitura as células, noutra faixa vibratória, à face do sistema de permuta visceralmente renovado, se distribuem mais ou menos à feição das partículas coloides (partículas muito pequenas), com a respectiva carga elétrica, comportando-se no espaço segundo a sua condição específica, e apresentando estudos morfológicos conforme o campo mental a que se ajusta".  

O perispírito é responsável pelo edifício físico de determinado ser, embora sob influência e orientação do Espírito que lhe dá exato direcionamento. O perispírito representa a tela refletora das energias do espírito e é por seu intermédio que a matéria (células e tecidos) se organiza buscando uma finalidade. Possui tal plasticidade que o desencarnado (espírito com seu perispírito) às expensas de sua própria vontade e a depender da evolução em que se encontra, pode apresentar-se com aspectos diversos que correspondem as suas personalidades já vividas.

Os seres vivos, desde o simples protozoário ao homem, são o efeito de seus próprios campos perispirituais. Os mais avançados na evolução são os que já possuem qualidades mais específicas adquiridas nas múltiplas vivências, onde o perispírito, como campo de energias mais amadurecidas, apresenta-se como modelo-organizador mais rico de qualidades. Assim, no perispírito estaria uma espécie de prévio modelo impondo as suas potencialidades na matéria que, também, o sustenta pelo fornecimento das experiências que aí se processam (perispírito e matéria se retroalimentam). (...)                                                        

O perispírito é o orientador da organização física, cujas células e tecidos estão em constante renovação. As substâncias menores (grupos moleculares) de substituição nas células perenes (células nervosas), como, também, as células de renovação da organização

física ocuparão suas exatas posições em obediência funcional, pela ação orientadora e sempre presente do perispírito.

(...) O perispírito apesar de coligado à matéria sofre afrouxamentos nessas ligações, em estados especiais (transes) e mesmo durante o sono. O afrouxamento dessa imantação, com as células físicas, possibilitaria as conhecidas projeções (desdobramento, saída astral), traduzindo específicas percepções.

Carrega o perispírito, em sua estrutura, um componente de centros de força bem específicos, conhecidos como centros-vitais, e descrito pelos antigos, através da teosofia, como chacras. (...)

Todos esses centros, pelas suas características de impulsão, organização e direção de trabalho podem exteriorizar-se, contrair-se e expandir-se, a fim de absorverem ou emitirem energias com variada finalidade. A sua precípua função seria a de canalizar as energias do espírito, após adaptação vibratória, nos campos materiais. Os campos da matéria que melhor se identificam com os chacras são os plexos nervosos do sistema neurovegetativo (parte do Sistema Nervoso responsável pelo controle das principais funções da vida vegetativa, involuntária como: circulação do sangue, digestão, respiração...), por onde as sugestões espirituais seriam feitas sem interferência da vontade consciente do sistema nervoso cérebro-espinhal.

No perispírito existirão os registros de todas as experiências, atividades, sensações e emoções que se realizam no corpo físico; todos esses registros são transladados para a zona espiritual (corpo mental) após as devidas e necessárias adaptações; isto porque, o perispírito não é o detentor definitivo das experiências (não é o arquivo da memória), mas um campo intermediário (...)

O perispírito pode e deve ser considerado como uma organização fluídica, onde as estruturas físicas se modelam em suas malhas por estarem submetidas sob sua direta influência, em mecanismos de contratilidade e expansibilidade. Os seus campos energéticos podem ser mais ou menos densos, na dependência da posição evolutiva em que se encontra determinado espírito. Nos Espíritos mais atrasados o perispírito é bastante denso e, como tal, bem aderente aos campos materiais; nos Espíritos mais evoluídos apresenta-se tênue e rarefeito, com possibilidade de mais fácil desligamento do campo material que influencia. Esta última qualidade pode propiciar ao encarnado maiores expressões de inteligência e mesmo apresentar, de modo mais ostensivo, a fenomenologia paranormal. Dessa forma, conclui-se que o perispírito possui “organizações análogas" ao corpo físico, porém muito mais expressivas e avançadas.”

 

Livro: “Correlações Espírito – Matéria”.

Autor: Jorge Andréa.

 

Admoestações de Jesus.  (extrato)

“A história humana vai demonstrar que a mensagem renovadora e libertadora do Cristo foi alvo de modificações inapropriadas e bem à guisa dos interesses em eleger, pela religião, a supremacia sobre o pensamento humano, tomando por base uma doutrina que tinha nascedouro no Deus dos Exércitos, no Deus cruel, e mantendo-a como primeira parte de um Evangelho construído sob essa expectativa de dogmas antigos, com a junção de dogmas novos que passariam a surgir.

Esse comportamento ensejou incontáveis divisões entre os fiéis ao tempo do Mestre e principalmente depois dele. Contudo, Jesus já sabia que isto aconteceria, tanto sabia que deixou claro à Humanidade o que os seus ensinamentos provocariam. (...)

Os Evangelhos muitas vezes mostram Jesus falando duro, de forma firme com os fariseus (Mateus 23, 13: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas”...), mas o seu discurso é ou amigável ou reflexo de uma discordância com a escola mais rigorosa de Shammai (Shammai e Hillel (avô de Gamaliel, que era mais liberal – mestre de Saulo de Tarso) foram dois dos maiores sábios, Rabinos judeus, cujas discussões sobre a Lei Judaica resultaram na criação de duas escolas de pensamento: a escola de Shammai – que era mais rígida quanto às Leis da Torá e a escola de Hillel – que era, geralmente, mais leniente, suave.) Nesse passo há que se compreender como natural que o Mestre fizesse duras admoestações. (...)

Sua obra (obra de Jesus) foi de construção e ou reconstrução sagrada a conduzir a alma humana de maneira sadia e progressiva, na senda da evolução luminosa traçada a todos pelo Criador.

Entretanto, passados quase 20 séculos, o tempo demonstrou as enormes dificuldades que os ensinos do Mestre Galileu enfrentaram e têm enfrentado, eis que inegavelmente foi alvo de aviltamentos e adulterações, principalmente no que havia de mais belo: a simplicidade e a pureza, tendo recebido o aporte (acréscimo) indesejável de dogmas obscuros, de sistemas mecânicos e frios, de interesses mesquinhos, provocando na criatura humana o assalto da dúvida. (...) 

Muito embora os homens tenham recitado e recitem, por incontáveis vezes, as máximas do Evangelho do Cristo, ao longo dos séculos já mencionados, esse recital não tem conseguido satisfazer a sede do seu próprio "interior”, pois que entoado sem a presença do sentimento altruísta e sem a prática da humildade, que verdadeiramente exalta, e, como dirá Léon Denis: "O homem esqueceu ao mesmo tempo o caminho dos templos e dos pórticos da sabedoria” (Cristianismo e Espiritismo - Introdução) ao que acrescentaríamos que os homens de ontem e de hoje, na sua maioria, perderam o endereço de Deus.

É tempo de procurar e reencontrar esse caminho, para o que precisamos todos de seguras respostas às dúvidas do coração, notadamente buscando desvendar passo a passo os mistérios sondáveis da Imortalidade, cultivando na alma a certeza da perenidade da vida espiritual e do giro incansável do Espírito pelos mundos que guarnecem o Universo, sob os auspícios da reencarnação, lei das vidas sucessivas que se agrega ao conjunto das Leis Divinas e Naturais que emanam de Deus.” (...)

 

Reflexões Atuais sobre as Admoestações de Jesus.


“Diante da gravidade das admoestações do Mestre Nazareno, se torna preciosa a oportunidade de reflexionar sobre nossa vida atual, sob os ecos dessas admoestações e de outras que entendermos também seguirem o mesmo sentido enérgico de orientação, em nossas existências, razão pela qual é importante indagarmo-nos: Existe algo de errado com a linha de conduta que estou seguindo nesta reencarnação? Existe alguém com quem eu tenha nutrido e ainda nutro desentendimentos? Alimento raiva, ódio ou desprezo por alguém? Há alguém a quem eu deva pedir perdão?

Pode ser que ainda estejamos obliterados pelo orgulho e cogitemos nos esconder no manto das pseudovirtudes. Se for o caso, esforcemo-nos por rasgar imediatamente esse manto. Expulsemos a qualquer custo esses sentimentos negativos de nossa mente.

Mas como fazer isto? Como nos devemos comportar para que as admoestações façam morada em nossa mente e coração e possam impelir-nos para o crescimento espiritual?

Não há fórmulas prontas, entretanto, para isto, o que é certo é que não devemos perder tempo lamentando e chorando as adversidades, eis que próprias do processo de crescimento evolutivo do Espírito que colide muitas vezes com a Lei Divina.

Será sempre preciso romper com os hábitos infelizes que porventura ainda cultivemos, que encontram escora nas formas-pensamento negativas, que contrariam a normalidade da vida trazendo com eles a projeção do egocentrismo, a manifestação do orgulho e do egoísmo que de forma sutil proporcionam dificuldades em nosso processo de mudança moral para melhor. Nossos pensamentos fluem ininterruptamente e somente a vigilância incessante pode acompanhá-los. Por esta razão, muitas pessoas não logram êxito na boa vigilância. Se esforçam por rechaçar os maus pensamentos, os maus pendores, mas não conseguem modificar para melhor os aspectos da sua vida, e por isso desanimam, se adornam de culpa, de mágoa, de descoroçoamento (desânimo) e caminham na direção da cumulação de problemas para a alma, o que constitui grave erro.

Imperativo que nos livremos das más inclinações, cujos efeitos envenenam a existência, buscando a escora inamovível da oração e dos propósitos de bem servir a todos, pois é da lei divina, e o Alcandorado (Sublime) Messias já ensinava que sempre acabaremos recebendo o mesmo tratamento que ofertamos aos outros (Romanos 2, 6; Gálatas 6, 7), de modo que, se libertarmos os outros de nossa condenação, nos livraremos, também, no mínimo, da autocondenação.

Para cultivarmos as circunstâncias da vida que nos tragam paz, harmonia e a felicidade possível, precisamos sintonizar o pensamento nas virtudes-sentimentos que a vivência do bem, portanto do amor, proporciona adquirir. Assim, se pretendemos ter saúde, é preciso não apenas idealizar um corpo saudável, mas sim, pensar na alegria de servir ao próximo, na prática permanente do amor, no equilíbrio espiritual.

Quando despertarmos para o conhecimento dessas e de outras verdades, começaremos a cultivar constantemente pensamentos harmoniosos em nossas vidas. Por evidente que o princípio não é complicado. É até mesmo simples. O desafio será sempre colocá-lo em prática.

É imprescindível rearranjarmos a vida, erguendo-nos dos sofrimentos e seguindo adiante, sempre, pois o que passou, passou; procurarmos transformar todos os dias em oportunidades de esplêndidas e maravilhosas realizações; não cultivarmos reminiscências incômodas do passado, nem remorsos, nem desejo de vingança, nem mágoa.

Para que possamos mergulhar no Amor Divino, a fim de atingirmos esses objetivos, ressuma de importância transcendental o conhecimento e a prática do Evangelho de Jesus, passando a entendê-lo, não como um conhecimento a mais trazido à Terra e por cujo conteúdo os que se dizem cristãos, ao longo destes quase dois mil anos, ainda não se entenderam e teimam em desfilar interpretações o mais eruditas possível, mergulhados na frieza que separa e não promove, mas sim, ensinos (conhecimentos), o que nos levará a condições espirituais muito melhores.” (...)

 

Livro: “Os Ângulos do Cristianismo. Admoestações de Jesus e os Ângulos do Espiritismo.

Autor: Francisco Ferraz Batista. – Editora: Fergs.

 

“O Autovampirismo” e “Aves de Rapina”.  (extrato)

(...) “No vampirismo endógeno (fatores relacionados com os conteúdos físicos e psíquicos do indivíduo – o autovampirismo) temos um quadro mais ou menos semelhante (ao vampirismo realizado por um ser sobre outro), mas a inversão dos fatores desencadeantes exige estímulos mais adequados ao despertar das reações da vítima. (...)

No autovampirismo a vítima de si mesma se “come por dentro, devora e suga as suas entranhas”. (...) É a própria vítima que atrai, então, os vampiros que passam a assediá-la. Forma-se assim o círculo vicioso que leva a vítima à sua autodestruição. (...) O esgotamento desta (da vítima) é controlado pelo envolvimento de outras vítimas. Por isso, o obsedado nazareno respondeu a Jesus, que perguntava pelo seu nome: “Eu me chamo Legião” (Marcos 5, 1 - 9).

Esse terrível processo autofágico (autofagia - palavra de origem grega (auto = eu e fagia = comer) que significa “comer a si mesmo”) se eternizaria num crescendo alucinante, se Jesus não o detivesse com a sua autoridade espiritual. O importante é notar que todos os elementos desse processo vêm do passado, provando tragicamente, aos olhos dos pesquisadores a existência da reencarnação individual e em grupos e a necessidade dos trabalhos mediúnicos de desobsessão. (...) Nas sessões espíritas, formando-se o ambiente mediúnico apropriado, o círculo vicioso é submetido à pressão das correntes de ectoplasma emanado dos médiuns (de que tratou o Dr. Geley) e dos fluxos de pensamentos benéficos e calmantes dos seus participantes. Dessa maneira, e com o auxílio das entidades superiores que atendem aos esforços fraternos das criaturas empenhadas no caso, a voragem negativa se desfaz, cabendo à vítima, dali por diante, não recuar na sua decisão de libertar-se. A sabedoria popular exprime essa situação no conhecido ditado: “Ajuda-te a ti mesmo, que o Céu te ajudará”. (O Evang. Segundo o Espiritismo, Cap. 25, Item 1) (...)

Nesses casos, os agentes externos devem ser tratados com mais atenção e contar com a eficácia da autoridade moral a que se referiu Kardec.                   

A condição moral dos doutrinadores é sempre importante, mas no caso do vampirismo endógeno (autovampirismo) seu papel é mais importante. Essa autoridade moral não pode, entretanto, ser medida pelas aparências. Suas medidas são de ordem consciencial. O comportamento externo de uma pessoa alegre, brincalhona, leva os moralistas carrancudos a considerá-la como leviana, o que não passa de um julgamento apressado.  A autoridade moral de Kardec decorre das intenções, dos sentimentos fraternos, do senso de justiça e bondade e do sentimento de amor e respeito pelos semelhantes que a pessoa demonstra. Quando os obsessores começam a ceder, temos de tomar cuidado com as ciladas da astúcia, aumentando a nossa confiança nos Espíritos Protetores e na essência espiritual do homem. Com esses elementos íntimos reforçamos a nossa posição, ajudando a vítima em sua recuperação. (...)

Temos ainda muito trabalho a enfrentar neste pequeno planeta que aviltamos (rebaixamos) ao invés de elevá-lo. E só pelo trabalho e a abnegação poderemos um dia merecer a nossa transferência para os mundos em que a Humanidade é realmente humana.

Basta olharmos de relance o noticiário dos jornais para vermos o que se passa em nosso mundo. Seremos tão tardos (lentos) de raciocínio para não entendermos que somos os responsáveis por todas as calamidades que assolam o planeta? O vampirismo nasceu e vive das nossas entranhas e das nossas mãos. No gigantesco processo da evolução dos milhões de seres que passaram pela Terra e ainda continuam passando, ao nosso lado, o papel que exercemos foi sempre o de vampiros. Os Espíritos que não mancharam suas mãos no “crime de Caim”, há muito que deixaram o nosso mundo de provas e expiações.”

 

Livro: Vampirismo – Autor: José Herculano Pires.

Editora: Paideia.

Avareza. (extrato)

(...) “Ora, se as fazendas e os haveres não asseguram vida longa nem venturosa, como se explica a fascinação que exercem sobre os homens? De onde procede tanto apego às temporalidades do século?

Jesus responde: vem da avareza. E, não só aponta a origem de tal vesânia (paixão, loucura), como adverte: “Guardai-vos e acautelai-vos de toda a avareza” (Lucas 12, 15).

Sim, de toda a avareza, isto é, das várias formas que essa terrível paixão assume, dominando o coração do homem.

Alexandre Herculano (escritor, historiador e jornalista português do sec. XIX), impressionado com os diversos aspectos do orgulho, exclama: “Orgulho humano! que serás tu mais: estúpido, feroz ou ridículo?”

Pois a avareza comporta aqueles três qualificativos: pode ser estúpida, ridícula ou feroz.

A estúpida é aquela modalidade sórdida e mesquinha que faz o homem privar-se do conforto, do necessário e até do indispensável, perecendo à míngua para conservar intacta a pecúnia (dinheiro) avaramente amealhada.

A avareza ridícula é a do homem que tem no dinheiro o seu ídolo, a sua preocupação constante e absorvente, empregando-o, embora, no luxo, na ostentação, ou simplesmente na satisfação dos seus apetites e caprichos.

A feroz (de todas a mais perniciosa) é a avareza dos açambarcadores, dos organizadores de monopólios e trustes, cuja ambição e cupidez desmedidas não se contentam com menos que possuir o mundo inteiro, ainda que para tanto seja mister reduzir à miséria toda a Humanidade. Outrora, essa avareza gerou os conquistadores e os latifúndios. Atualmente, ostenta-se nas grandes organizações comerciais e industriais, nas companhias, nos sindicatos e empresas poderosas cujos tentáculos se alongam em todas as direções.

Essa classe de avareza é geralmente peculiar a homens inteligentes, ricos, astutos e de alta cotação social. Das três, é, como ficou dito, a mais perniciosa e a que mais danos tem acarretado à sociedade de todos os tempos. Um só avaro dessa categoria, ou uma comandita (grupo de sócios ou empresários) de meia dúzia deles, pode reduzir à fome uma cidade, um povo inteiro.

É a responsável pela carestia (aumento de preços dos produtos) e pelas crises econômicas que convulsionam (abalam, agitam) o mundo, dando origem às lutas fratricidas (entre irmãos) que, por vezes, estendem o negro véu da orfandade e da viuvez sobre milhares de crianças e de mulheres indefesas. É também obra sua, nos tempos que correm, os milhões de desempregados nos países industriais, e as pretensas superproduções nos países agrícolas.

O trabalho suspenso; o legítimo comércio (que significa a livre troca de produtos entre as nações), quase de todo paralisado graças às odiosas barreiras alfandegárias (grandes impostos), são outros tantos crimes de lesa humanidade praticados pela avareza da terceira espécie, isto é, a feroz.

As outras duas formas (estúpido e ridículo) são mais estados mórbidos ou doentios da alma; a feroz é que caracteriza a verdadeira avareza. Aquelas (estúpido e ridículo) prejudicam somente os indivíduos que as alimentam; ao passo que os maléficos efeitos desta (feroz) atingem um raio de ação considerável, incalculável mesmo.

Todavia, os escravizados por essa cruel paixão são dignos de piedade. Vivem iludidos; agitam-se, como todos os homens, em busca da sonhada felicidade. Julgam encontrá-la na satisfação dos desejos, na expansão do egoísmo. Cobiçando sempre, vão alimentando ambições, que jamais chegam a ser satisfeitas.

Entretanto, a nossa alma, para ser feliz, não precisa construir celeiros de proporções desmesuradas como fez o “rico da parábola”; não precisa mesmo de um céu imenso, recamado (repleto) de sóis refulgentes, basta-lhe uma nesga azul, onde "brilhe a estrela do amor".

 

Livro: “Em Torno do Mestre”.

Autor: Pedro de Camargo – “Vinícius”.

 

Introdução (extrato)

(...) “Na linguagem técnica adotada pela Sociedade Inglesa de Pesquisas Psíquicas, o fenômeno “premonitório” recebeu esta simples definição: “Predição supranormal de um acontecimento futuro qualquer”; e esta definição parece feliz e adequada; (...)

(...) O termo “premonição” encontra-se como sinônimo deste outro: “clarividência no futuro”, empregado pelos antigos magnetólogos, e ambos compreendem todos os casos que, segundo suas modalidades particulares de manifestação, tomam na linguagem comum os nomes de “pressentimento”, “aviso”, “predição”, “adivinhação”, “profecia”.

Com relação ao valor intrínseco do fenômeno em questão, encontro-me de acordo com o Dr. Samona, cujo parecer é de que “entre os fenômenos metapsíquicos, os premonitórios, que todavia desafiam todas as nossas concepções mais audaciosas para chegar à sua explicação, estão entre aqueles de cuja existência menos se permite duvidar, pois há casos verdadeiramente autênticos diante dos quais somos forçados a nos inclinar, apesar da sua “ininteligibilidade absoluta” (não se pode compreender totalmente).

Para se chegar à conclusão da frequência com a qual eles se realizam, basta consultar a história dos povos; aí recolher-se-ão numerosos exemplos, e em todas as épocas. E se queremos recorrer ao critério prático do testemunho humano, constataremos que interrogando um grupo de pessoas pegas ao acaso, é bem difícil que nenhuma delas não tenha um incidente pessoal do gênero para contar; o que não se pode afirmar para a telepatia. De modo que somos levados a concluir que os fenômenos premonitórios tomam lugar entre os mais comuns da casuística metapsíquica (ciência que estuda os fenômenos psíquicos anormais, como a clarividência, a telepatia, a visão dupla).

Eles se dão, na sua grande maioria, durante o sono natural ou provocado; mais raramente em condições de vigília; e mesmo quando isso acontece, é fácil encontrar sempre indícios que permitem reconhecer um estado mais ou menos disfarçado de auto-hipnose leve ou de “ausência psíquica”, no sensitivo. (...)

Seus modos de exteriorização são mais variados e compreendem toda a gama da casuística metapsíquica. Na sua forma mais simples, consistem num vago sentimento de ansiedade profunda ou de sombrio presságio, sentimento não motivado e invencível, que leva inconscientemente a pessoa a orientar seu próprio pensamento para o de tal pessoa, ou a esta ordem especial de acontecimentos que constituirão o objeto da premonição. Mais comumente, eles assumem uma forma de visualização alucinatória, tanto espontânea quanto provocada, na qual os quadros de acontecimentos futuros manifestam-se ao sensitivo numa sucessão extremamente fugaz, tanto em agrupamentos plásticos, quanto em ação cinematográfica, às vezes, com a aparência de acontecimentos reais, outras vezes de uma maneira ideográfica e simbólica; em tal caso a verdadeira significação do símbolo não parecerá totalmente desvendada senão após a realização do acontecimento. Não menos frequentemente eles se apresentam sob forma de audição alucinatória, onde uma voz, reconhecida, às vezes, como interior ou subjetiva, ou revestindo um timbre objetivo, e frequentemente familiar, efetua uma predição, numa linguagem mais ou menos enigmática, dos acontecimentos futuros. Em outras circunstâncias eles se traduzem num fenômeno fônico com um cunho decididamente objetivo, como, por exemplo, quando batidas, gemidos, ruídos de toda espécie (fiéis em cada um dos casos à sua modalidade de exteriorização) reproduzem-se tradicionalmente numa família para anunciar a morte de um de seus membros. (...) Nota-se ainda um gênero de premonições transmitidas sob forma de impulsão motriz irrefreável, que impulsiona o sensitivo a atos que parecem absurdos porque não motivados, como, por exemplo, voltar sobre seus passos, dar uma corrida, trocar de lugar ou de caminho, escapando dessa maneira de um grave perigo que o ameaçava com seu desconhecimento. Contaremos finalmente um último gênero, muito mais raro, premonições que assumem uma forma divinatória, de maneira que o sensitivo é levado, contra a vontade, a exprimir profecias pelas quais não se sente responsável; nesse caso, a forma orácula que assumem de hábito suas palavras faz pensar nas respostas dos oráculos greco-romanos.

Um dos caracteres especiais dos fenômenos que estudamos é o de se referir, originariamente, aos conhecimentos dolorosos, raramente a incidentes alegres. (...)

Um outro aspecto do seu caráter, digno de nota, consistiria no fato de que um grande número de sonhos premonitórios visitam por várias vezes, e sempre de maneira idêntica, o sensitivo, seja na mesma noite, seja em outras sucessivas, como se quisesse reiterar nele a impressão sobre aquele que dorme, com o objetivo de torná-la mais durável, o que nunca deixa de se realizar em tais circunstâncias. Entretanto, quando se vê esse fenômeno efetuar-se em numerosos casos, poder-se-ia ao mesmo tempo adiantar que o caráter desses mesmos sonhos consiste numa tendência oposta, a de mostrar uma labilidade (instabilidade emocional) sui generis; labilidade que difere, entretanto grandemente da dos sonhos comuns, já que, de um lado, o sonho premonitório é, principalmente, muito mais vivaz do que o sonho comum, embora o sensitivo conserve dele uma lembrança muito clara ao despertar, unida a um interesse inabitual através desse sonho (o que leva o sensitivo a contá-lo, ou dele tomar nota), mas que, por outro lado, esse mesmo sonho ainda que lembrado, repetido, comentado, escrito (todas as circunstâncias que deveriam fixá-lo nos centros mnemônicos – relativo à memorização; fácil de reter na memória), está quase sempre sujeito a uma rápida e total obliteração; este, por sua vez, será efêmero e transitório, pois no momento em que se realizarão os incidentes vistos em sonho, a lembrança do sonho surgirá como um relâmpago no espírito do sensitivo com toda sua vivacidade primeira. (...)

Um terceiro caráter dos fenômenos premonitórios concerne à “noção do tempo”; essa noção pareceria um elemento impossível de traduzir em nossos termos humanos, do “plano supranormal” ao “plano mental”; por conseguinte, as datas dos fenômenos premonitórios perduram quase sempre imprecisas, e o vidente no sonambulismo, ou um outro em seu lugar, julga aproximadamente o tempo de diferentes maneiras, mas com mais frequência, de acordo com a distância na qual se apresenta na sua visão interior o quadro dos acontecimentos futuros; se é muito próximo, ele concluirá que o acontecimento deve se produzir em breve, e nesse caso o hábito poderá permitir-lhe precisar até o dia e a hora; se, ao contrário, a visão é mais ou menos distante, apenas chegará a designar a semana, o mês, o ano em que deverá efetuar-se a profecia. Esta regra, entretanto, comporta numerosas exceções, por exemplo, quando o sensitivo visualiza uma data, e não outra coisa, que se pensará ser a data de sua própria morte, ou da morte de um familiar ou de um outro acontecimento memorável que se refere a ele ou ao seu consulente. (...) Como se vê, os modos de exteriorização dos fenômenos premonitórios são tão atrapalhados e tão complexos, que parecem contraditórios; e entretanto tudo concorre para provar que essa confusão depende do fato apontado mais acima: que esses fenômenos, ainda que pareçam ter uma origem comum, devem-se, em realidade, a causas múltiplas.

Observarei ainda uma quarta particularidade comum a um grande número de manifestações premonitórias, que consiste nisto: o sensitivo percebe ou registra, inteiramente ou em parte, os dados secundários que se referem a um acontecimento futuro e não percebe ou não registra os dados essenciais, de modo que ele se mantém sobre o acontecimento que o aguarda, prontamente instruído para entretê-lo, mas não para penetrá-lo, razão pela qual não chega a evitá-lo.” (...)

 

Livro: “Fenômenos Premonitórios” - Autor: Ernesto Bozzano.

 

 “Vista de Conjunto dos Argumentos que Militam em Favor da Reencarnação.”

(...) “Em obra precedente, "A Evolução Anímica”, procurei indicar como se podia conceber o desenvolvimento progressivo do princípio espiritual, e mostrei que, colocando-se a causa da evolução nos esforços empregados pelo princípio inteligente, para libertar-se progressivamente dos laços da matéria, explicam-se melhor os fatos do que pela teoria materialista dos fatores únicos da hereditariedade e do meio.

O progresso físico e intelectual provém de esforços incessantes, reiterados, de melhoramentos quase imperceptíveis, a cada passagem, mas cujo termo está na Humanidade, que resume e sintetiza essa grande ascensão.

O ser, chegado a um grau qualquer da escala vital, não pode mais retrogradar, simplesmente porque não encontraria mais, em razão do seu estado evolutivo, as condições necessárias para encarnar nas formas inferiores, que já ultrapassara. (...)

Tudo evoluciona, tanto as nações como os indivíduos, assim os mundos como as nebulosas. Tudo parte do simples para chegar ao composto; da homogeneidade primitiva vai-se à prodigiosa complexidade da Natureza atual, realizada por leis que só pedem tempo para produzir todos os seus efeitos. (...)

Vimos que, nos vertebrados superiores e mais particularmente entre os animais domésticos, a inteligência adquiriu grande desenvolvimento para compreender a linguagem humana, para formular raciocínios, para resolver certos problemas.

É evidente que se encontra, ainda, num grau inferior de mentalidade, mas que é da mesma natureza que a nossa. (...)

 

A Reencarnação Humana e a Memória Integral

Para chegarmos à verificação experimental da realidade das vidas sucessivas e para explicar por que não se conservam as lembranças das existências anteriores, é preciso estudar sumariamente as diferentes modalidades da memória.

Se a alma é individualizada em uma substância, que a acompanha durante todo o tempo de sua evolução; se esse corpo espiritual é o guardião indefectível de todas as aquisições anteriores, estamos no direito de perguntar por que, a cada volta, aqui, não temos conhecimento do passado?

Para compreender o olvido das vidas anteriores seria indispensável mostrar que, mesmo em nossa atual existência, produzem-se profundas lacunas relativamente a uma multidão de incidentes que nos sucedem, e, por vezes, períodos inteiros apagam-se de nossa lembrança. Não será, portanto, extraordinário que o mesmo se dê com tudo o que precede a vida atual, pois que o perispírito experimenta profundas modificações íntimas, ao reaparecer na Terra. Estabelece-se, de cada vez, um novo equilíbrio, que modifica, necessariamente, o estado da memória. (...)”

 

 Conclusão.

(...) “O estudo das comunicações espíritas provou-nos, de maneira irrefutável, que a situação da alma, depois da morte, é regida por uma lei de justiça infalível, segundo a qual os seres se encontram em condições de existência, que são rigorosamente determinadas por seu grau evolutivo e pelos esforços que faz para melhorar.

Nossas relações com o Além ensinaram-nos, ainda, que não existe inferno, nem paraíso, mas que a lei moral impõe sanções inelutáveis (contra o que é impossível lutar) àqueles que a violaram, enquanto reserva a felicidade aos que se esforçaram por praticar o bem, sob todas as formas. (...)

Se as almas devem passar por todas as situações sociais e por todas as condições físicas para desenvolver-se moral e intelectualmente, as desigualdades de toda a natureza, que se verificam entre os seres, compensam-se na série das vidas sucessivas. Cada qual, há seu tempo, ocupará todos os degraus da escala social, o que cria uma perfeita igualdade nas condições do desenvolvimento dos seres; em virtude da lei de justiça, todos se encontram na condição social que melhor convém ao seu progresso individual, porque todo renascimento é condicionado pelas consequências das vidas anteriores.

Toda falta acarreta efeitos inelutáveis; (...)

 

O Progresso

O mal já não é uma fatalidade inelutável de que não nos poderíamos libertar; ele aparece como um aguilhão, como uma necessidade destinada a compelir o homem para a estrada do progresso. Apesar dos sofismas dos retóricos, o progresso não é uma utopia. (...)

 

Consequências Morais

As vidas sucessivas têm por objeto o desenvolvimento da inteligência, do caráter, das faculdades, dos bons instintos, e a supressão dos maus.

Sendo contínua a evolução e perpétua a criação, cada um de nós, no correr das existências, é, a todo o instante, feitura de si mesmo. (...)                                                 Partindo todos do mesmo ponto, para chegar ao mesmo fim, que é o aperfeiçoamento do ser, existe, realmente, uma perfeita igualdade entre todos os indivíduos.

Essa comunhão de origem mostra-nos claramente que a fraternidade não é uma palavra vã. Em todos os degraus do desenvolvimento, sentimo-nos ligados uns aos outros, de sorte que não existe diferença radical entre os povos, a despeito da cor da pele ou do grau de adiantamento. A evolução não é somente individual, é coletiva. As nações se reencarnam por grupos, de sorte que existe uma responsabilidade coletiva como existe a individual; daí resulta que, qualquer que seja nossa posição na sociedade, temos interesse em melhorá-la, porque é o nosso futuro que preparamos.

O egoísmo é, ao mesmo tempo, um vício e um mau cálculo, porque a melhoria geral só pode resultar do progresso individual de cada um dos membros que constituem a Sociedade. Quando estas grandes verdades forem bem compreendidas, encontrar-se-á menos dureza entre os que possuem, e menos ódio e inveja nas classes inferiores.

Se os que detêm a riqueza ficarem persuadidos de que, na próxima encarnação, poderiam surgir nas classes indigentes, teriam evidente interesse em melhorar as condições sociais dos trabalhadores; reciprocamente, estes aceitariam com resignação a sua situação momentânea, sabendo que, mais tarde, poderiam estar, por sua vez, entre os privilegiados.

A Palingenesia é pois uma doutrina essencialmente renovadora, é um fator de energia, visto que estimula em nós a vontade, sem a qual nenhum progresso individual ou geral poderia realizar-se.

A solidariedade impõe-se a nós como uma condição essencial do progresso social; é uma lei da Natureza, que já podemos verificar nas sociedades animais, constituídas para resistir à lei brutal da luta pela vida.

O mal não é uma necessidade fatal imposta à Humanidade.

Em resumo, a teoria das vidas sucessivas satisfaz todas a aspirações de nossas almas, que exigem uma explicação lógica do problema do destino. Ela concilia-se, perfeitamente, com a ideia duma providência, ao mesmo tempo justa e boa, que não pune nossas faltas com suplícios eternos, mas que nos deixa, a cada instante, o poder de reparar nossos erros, elevando-nos, lentamente, por nossos próprios esforços, subindo os degraus dessa “escada de Jacob”, onde os primeiros mergulham na animalidade e os últimos chegam a mais perfeita espiritualidade. (...)” 

Livro: “A Reencarnação” – Autor: Gabriel Delanne.

“Do Orgulho dos Homens à Modéstia dos Sábios. 

(extrato)

(...) “Muitos de nós, que hoje militamos na Doutrina Espírita, viemos das fileiras religiosas, do absolutismo religioso. Vivemos, durante séculos, folheando os livros sagrados, engranzando rosários, comentando as Escrituras, apostrofando (esconjurando) os incréus (ateus) ou os díscolos (dissidentes), anatematizando os contrários, proibindo as discordâncias, impondo os pontos teológicos. Seria impossível que esse lidar, durante tempos imemoriais, num sentido único e num só feitio, não nos fizesse uma ranhura na alma. 

Daí o infalibilismo bíblico, o sectarismo religioso, a inflexibilidade na interpretação dos textos, a fé desarrazoada (despropositada; injusta), a inclinação a toda sorte de fanatismo, o abandono da iniciativa pessoal, a propensão a deixar tudo por conta e às costas do Espírito Santo, em nosso caso, o Espírito-guia.

(...) “Eles não podem ver, ainda, com bons olhos o Espiritismo Científico, que lhes parece orgulho, bazófia e até ignorância.

Há o reverso; há o outro extremo: os que não admitem o espírito religioso. Para eles só vale o conhecimento. (...) Faltando-lhes a fé, sua crença não passava de mera encenação, espécie de fogo de vista. Só acreditavam nos cinco sentidos e nas fracas noções que a Ciência nos oferece. Não viam, nem veem que muita coisa há que nos entra na alma pela via da intuição; que há pobres de espírito mais iluminados que muitos sábios sublunares; que uma simples prece faz conseguir o que muitos anos de esforço não podem realizar.

O estudo, a meditação, a lição dos maiores convenceram-nos de que amputaremos o Espiritismo, se lhe tirarmos uma de suas faces.

Em resumo: devemos ater-nos ao Tríplice Aspecto do Espiritismo, procurando na parte filosófica a nossa origem, o nosso destino, o problema do ser; buscando, na parte religiosa, manter o traço que nos deve ligar ao Criador e seguir a Moral que Ele nos vem transmitindo através das idades e dos meios que cada época requer; colhendo, na parte científica, a prova, a documentação das partes anteriores, e, consequentemente, adquirindo a certeza de que são autênticas. (...)

Tal é o que a razão aconselha e tal é o caminho que todos deveriam seguir, se, infelizmente, as paixões humanas não se colocassem acima do raciocínio e do entendimento.

Quanto ao terreno, continuaremos mourejando na planície. Caem de muito alto os que muito sobem. Infelizes os que se julgam no ápice da glória, quer os que com a espada escrevem páginas dolorosas e sangrentas, quer os que com a pena abrem profundas feridas na consciência e na liberdade alheias.

Não é principalmente orgulho, senão lamentável imprevidência o não nos fazermos pequeninos, como mandava o Divino Mestre.”

Livro: “Religião” – Autor: Carlos Imbassay – FEB. 

 

“O Desaparecimento dos Profetas Cristãos” (extrato)

“Um dos mais intrigantes problemas da história do Cristianismo é o desaparecimento dos profetas dos quadros hierárquicos da Igreja. E o fenômeno parece ficar mais misterioso ainda quando recordamos o quanto eles eram valorizados no primeiro século do Cristianismo, como atesta a Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios. Sua importância é claramente enfatizada por Paulo, quando exorta: “Aspirai igualmente aos dons espirituais, mas sobretudo ao da profecia”, pois “o que profetiza, edifica a assembleia” (1 Coríntios 14, 1.4). E, conforme esclarece Léon Denis, “profetizar", para os antigos cristãos, não era outra coisa senão ministrar um ensino sob inspiração espiritual, ou seja, tratava-se da mesma função do médium de psicofonia ou incorporações.

Parece que o desaparecimento desses médiuns dos quadros da Igreja ocorreu paulatinamente, ao longo do século 2, de forma que a prática da profecia continuou apenas em algumas comunidades da Asia Menor (montanistas), consideradas hereges, a partir daí, pela Igreja Católica. É possível que o crescimento do poder dos clérigos (padres da igreja Católica), presbíteros (pastores das igrejas Gregas) e bispos, tenha, aos poucos, ofuscado a autoridade daqueles que apenas exerciam o ministério da palavra inspirada, sem dispor de mais nenhuma outra fonte de poder. Infelizmente, parece que os clérigos da Igreja devem boa parte de sua autoridade ao simples papel de administradores que de início teriam exercido, e ao qual teriam procurado atribuir um valor sagrado, confundindo meios com fins.

De fato, tudo indica que a desvalorização do papel dos profetas deu-se de forma simultânea ao crescimento do poder dos presbíteros e, depois, mais ainda, ao dos bispos. Estes últimos, de início, teriam sido apenas presbíteros encarregados de gerir os recursos destinados, pela Igreja, para o auxílio aos necessitados, tal como os diáconos, que os auxiliavam nessa tarefa.

Que os bispos eram, de início, chamados também de "presbíteros", ou seja, anciãos, indicando com esse título os membros mais veneráveis da Igreja, comprova-o a Epístola a Tito (Tito 1, 5-7) (...) 

Por estarem encarregados da administração dos bens da Igreja foram ganhando cada vez mais importância e se destacando no colégio presbiteral como "presbíteros maiores”, como os únicos a portarem o título de "bispo" em detrimento dos outros. (...)

Com o tempo, entretanto, o bispo, os presbíteros e diáconos - os "párocos” em geral - de administradores que eram dos bens materiais da Igreja, fizeram-se seus usufrutuários. Hermas (um cristão, ex-escravo, que escreveu textos que receberam o nome de “O Pastor”) censurava já, em seu tempo, diáconos que teriam enriquecido desviando os recursos destinados ao socorro de viúvas e órfãos. É bem possível, portanto, que a desvalorização do papel do profeta dentro da Igreja também tenha decorrido da conveniência, para os clérigos, de furtar-se à fiscalização e censura do plano espiritual, que lhes chegaria por meio daqueles intermediários (Profetas – médiuns).” (...)

Livro: “O Silêncio dos Profetas” – Autor: Pinheiro Martins.

Editora: CELD.

  “Bem-Aventurados os Pobres Pelo Espírito!”   (Mateus 5, 3)      “ Poucas palavras do Evangelho sofreram, através dos séculos, tão grande...